José Aparecido Da Silva*
A medicina cognitiva, abordagem inovadora e multidisciplinar que amplia os horizontes da área médica, busca integrar conhecimentos de diferentes campos para uma compreensão mais profunda e holística do ser humano. Sendo a saúde do cérebro uma preocupação global, sua importância ultrapassa o indivíduo, impactando diretamente o desenvolvimento humano. Logo, para uma saúde compreensiva e global é essencial a implementação de estratégias para prevenção e promoção da saúde do cérebro, uma vez que ele enfrenta constantes desafios, como doenças e questões de seguridade social, que afetam seu desempenho. Sua atuação influencia a autonomia, produtividade e adaptação dos seres humanos. Assim, para compreender melhor o impacto do funcionamento cerebral em nossas vidas, é fundamental entender o conceito de medicina cognitiva. Incorporando a cognição, entendida como um conjunto de processos mentais que possibilitam a interação com o ambiente e outros indivíduos. Que é fundamental na saúde e do envelhecimento do cérebro, assim como, percepção visual e habilidades sociais complexas, esta é essencial para o diagnóstico de distúrbios neurocognitivos.
Em casos clínicos, déficits nas funções cognitivas superiores, com destaque para as funções executivas, que englobam habilidade de concentração, memória de trabalho, controle inibitório, flexibilidade cognitiva e velocidade de processamento, têm reflexo negativo no desempenho da pessoa em suas atividades de vida diárias. As funções cognitivas são também estudadas dentro das neurociências, que as entende como processos mentais fundamentais para adquirir, processar e utilizar informações. Disfunções cognitivas surgem quando há comprometimento em processos como atenção, memória e controle executivo, impactando atividades cotidianas. O declínio cognitivo, percebido como uma redução nas habilidades cognitivas, deve ser corroborado por avaliação clínica objetiva, usando testes neuropsicológicos padronizados.Tal declínio, associado a desordens típicas do envelhecimento ou outras condições clínicas, afeta não só o indivíduo, mas também a comunidade e os serviços de saúde.
Assim considerando, independente do progresso dos cuidados pré-operatórios, declínio cognitivo pós-operatório (POCD, na sigla inglesa) tem sido aceito inequivocadamente como uma complicação significante e frequente da cirurgia em pacientes idosos. Todavia, não há uma definição consensual da POCD na comunidade médica e, amplamente falando, ela se refere a um declínio na cognição associado à cirurgia. Em casos em que POCD venha a durar mais de três meses, ele é definido como declínio cognitivo pós-operatório de longa duração. Nesta situação, uma considerável proporção de pacientes não se recupera três meses após a cirurgia. Um exemplo? De 7 a 69% na cirurgia cardíaca. A disfunção cognitiva pós-operatória refere-se a uma deterioração na cognição associada temporariamente à cirurgia conforme quantificada por testes neuropsicológicos. A nomenclatura e classificação desta condição continuam a evoluir, e tem havido trabalhos significativos para alinhar as literaturas geriátrica e anestésica acerca desta condição. A idade, deficiência cognitiva pré-existente, baixo nível educacional e suscetibilidade genética foram identificados como fatores de risco para a POCD. Porém, evidências ainda são insuficientes para se recomendar técnicas anestésicas específicas para a prevenção desta condição
Disfunção cognitiva pós-operatória é definida como um declínio nos escores dos testes neuropsicológicos a partir do desempenho pré-cirúrgico, podendo ser detectada em 15% ou mais dos pacientes cirúrgicos três meses após a cirurgia. Geralmente o declínio é modesto e estudos têm tentado verificar se tal declínio é associado com atividades desempenhadas na vida diária. Um estudo buscando verificar se o desempenho cognitivo pós-cirúrgico é relacionado à independência nas atividades de vida diária que realizamos, considerou 167 idosos submetidos a grandes cirurgias não cardíacas, as quais requeriam, no mínimo, dois dias de internação. Pacientes com história de demência e procedimentos cardíacos ou intracranianas não foram incluídos. Para todos foi administrada uma bateria de testes neuropsicológicos pré-cirúrgicos e novamente três meses após a cirurgia. Os subtestes incluíram fazer trilhas, amplitude de dígitos crescente e decrescentes, testes de inteligência, histórias de memória lógica, relembrar coisas de modo imediato e atrasado, listas de animais e vegetais, nomeação e testes de aprendizagem verbal. Os pacientes também completaram o teste de miniexame mental antes da cirurgia, quatro dias após, uma semana após e três meses após. Em adição, uma avaliação funcional foi investigada utilizando uma escala de atividade de vida diária adaptada para pacientes com incapacidade cognitiva leve. Também foi verificado indicadores de fragilidade, resistência, ambulação e perda de peso. Dor foi avaliada antes e três meses após a cirurgia usando uma escala geriátrica de dor.
Os dados revelaram que pacientes com POCD tiveram duas vezes mais a proporção de novas incapacidades em indicadores de atividades diárias quando comparados com aqueles sem POCD. As áreas mais comuns de declínio foram atividades sociais, habilidades para encontrar itens ao redor da casa, relembrar agendamentos, fazer compras e pagar contas, ir à lavanderia, lavar suas próprias roupas, dirigir o próprio carro, usar o transporte público e fazer o trabalho doméstico. Em geral, os pacientes com POCD experienciam uma incidência mais elevada de novas incapacidades após cirurgia. As limitações funcionais e o escore cognitivo pré-cirúrgico, linha de base, são também fatores de risco para as novas incapacidades. Muitos pacientes não estão conscientes de suas limitações antes da cirurgia. Assim considerando, muitos pacientes necessitam ser informados de seu risco para nova incapacidade após cirurgia. Forma, esta, que possibilita melhores decisão médica e intervenções visando suporte social e emocional que os ajude a uma recuperação otimizada. Em outras palavras, além de considerar a dor pós-cirúrgica, sintomas depressivos e redução das capacidades cognitivas devem ter prioridades nas intervenções pós-operatórias.
Prof. Visitante da UnB-DF*