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Neuropsicometria Cognitiva (3): Diabetes mellitus

Diabetes mellitus (DM) é uma doença metabólica que pode causar complicações no sis­tema nervoso periférico e em vários órgãos do corpo, incluindo rins, olhos e cérebro. Apro­ximadamente, 180 milhões de pessoas ao redor do mundo têm DM e o número é estimado a dobrar por volta de 2030. As duas formas primárias de Diabetes são a Diabetes tipo 1 – desor­dem autoimune caracterizada por uma perda absoluta, ou quase total, de secreção de insulina – e a Diabetes tipo 2 – caracterizada por uma sensibilidade reduzida de insulina e deficiência relativa da mesma. Em ambas as formas, hiperglicemia crônica pode conduzir à complicações micro e macrovasculares. Neste contexto, embora muito do foco seja concentrado nos órgãos usualmente afetados pela deficiência de insulina, o cérebro também tem sido afetado.

Uma preocupação ainda pouco reconhecida da complicação da Diabetes é sua associação com disfunções cognitivas. Pacientes com tipo 1 e tipo 2 de Diabetes mellitus têm mostrado déficit cognitivo atribuíveis à sua doença. Tanto a hipoglicemia quanto a hiperglicemia têm estado implicadas como causa das disfunções cognitivas, embora os mecanismos patofisioló­gicos subjacentes a esta complicação não sejam muito bem compreendidos.

Duas grandes revisões (Kodl & Seaquist, 2008, Endocrine Reviews, 29: 4, 494-511e Mc­Crimmon & Ryan & Frier, 2012, Lancet, 379, 2291-2299) elaboraram uma análise compre­ensiva da literatura acerca da associação entre vários domínios dos processos cognitivos e o desequilíbrio diabético. As deficiências cognitivas mais comuns identificadas em pacientes com Diabetes tipo 1 são a lentidão da velocidade de processamento de informação e a piora na eficiência psicomotora. Além disso, outras deficiências têm sido notadas, incluindo dificulda­des na velocidade motora, no vocabulário, na inteligência geral, na construção visuo-espacial, na atenção, nas características somatossensoriais, na força motora e na memória. Neste caso, o controle glicêmico parece ter papel relevante no desempenho cognitivo em pacientes com Diabetes tipo 1, sendo as funções como eficiência psicomotora, velocidade motora, atenção, escores de QI verbal, memória e desempenho acadêmico otimizadas com um melhor controle glicêmico. Ademais, são relatados estudos em que houve reduções significativas na cognição global, incluindo inteligência fluída e cristalizada, velocidade de processamento de infor­mação, atenção visual sustentada, flexibilidade mental e percepção visual em pacientes com Diabetes tipo 1 comparados com pacientes com glicemia normal.

Por sua vez, em relação aos pacientes com Diabetes mellitus tipo 2, também tem sido mos­trado que os mesmos revelam diminuição na velocidade psicomotora, nas funções executivas, na memória verbal, na velocidade de processamento, no funcionamento motor complexo, na memória de trabalho, na retenção visual e na atenção. Todavia, o controle glicêmico parece desempenhar um papel relevante em determinar o grau de disfunção cognitiva detectada em pacientes com Diabetes tipo 2, embora isto não tenha sido uniformemente observado em todos os participantes.

Ambos os tipos de Diabetes mellitus têm sido associados a reduzido desempenho em nume­rosos domínios das funções cognitivas. A exata patofisiologia da disfunção cognitiva no Dia­betes mellitus não é ainda completamente compreendida, ainda que seja provável ser a hiper e hipoglicemia, bem como, a doença vascular e a resistência a insulina, doenças com desempenho significativo nessas disfunções. Ademais, importa mencionar que as características cognitivas das pessoas com Diabetes tipo 2 são similares àquelas observadas nas pessoas observadas com Diabetes tipo 1. Em outras palavras, ambos os grupos mostraram evidência de lentidão motora e mental e diminuições de desempenho similares nas várias medidas de funções executivas verifi­cadas, tais como, planejamento, atenção, memória de trabalho e solução de problemas.
Assim considerando, torna-se fundamental que medidas preventivas envolvendo um oti­mizado controle glicêmico inicie-se já na primeira infância para que as funções cognitivas não afetem posteriormente desempenhos cotidianos e escolásticos.

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