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O homem forte do Interior

FOTOS: J.F.PIMENTA/ESPECIAL PARA O TRIBUNA

Criado na cidade de Sertãozi­nho em 1976, o grupo Saveg­nago cresceu e se consoli­dou nestes 42 anos de existência, como uma das mais importantes empresas supermercadistas do país. Dados da Associação Bra­sileira de Supermercados (Abras) revelam que a rede fechou 2017 em 1º lugar no interior paulista, 7º lu­gar no Estado de São Paulo e 11º no Brasil. Vale lembrar que a primeira loja foi reinaugurada recentemente e virou um ‘Supermercado Escola’, em parceria com o Senac.

Com 43 lojas, distribuídas em 16 cidades, 8.400 funcionários e dois centros de distribuição, um em Ri­beirão Preto e outro em Araras, a empresa tem um total de funcioná­rios semelhante ao dos servidores da Prefeitura de Ribeirão Preto e é maior do que a população de cida­des da região, como Guatapará.

O empresário Chalim Savegnago comanda a maior rede de supermercados do interior

Em 2015, a empresa implantou uma nova estrutura societária, com a criação da Savegnago Par­ticipações e Negócios S.A., que consolidou todas as operações do grupo que inclui supermer­cados, postos de combustíveis, financeira, uma empresa de em­preendimentos e participações e uma imobiliária.

Nesta entrevista exclusiva ao Tribuna Ribeirão, o empresário e presidente-executivo do grupo, Se­bastião Edson Savegnago, que co­manda o grupo – que faturou R$ 3 bi em 2018 – com uma média diá­ria de trabalho de 11 horas, fala um pouco sobre conquistas, planos, desafios e revela a origem do ape­lido que carrega desde a infância. A empresa de ‘Chalim’ Savegnago é lí­der em vendas em treze municípios. O próximo passo, segundo ele, é ser líder em todas.

Na entrada do Centro Administrativo, em Sertãozinho, um quadro com a reprodução da fachada da primeira loja e o busto de seu fundador, Aparecido Savegnago

Tribuna Ribeirão – Como é administrar uma empre­sa que possui um total de funcionários semelhante ao de servidores da prefeitura de Ribeirão Preto e ao da popu­lação de Guatapará?
Chalim Savegnago – Admi­nistrar uma empresa privada é muito mais fácil do que uma empresa pública, como uma Prefeitura. No poder público o prefeito tem tempo determinado para deixar o cargo. Então, o funcionário acaba se sobrepondo ao prefeito. Na empresa privada é o contrário e quem tem possibilidade de sair é o fun­cionário. Por isso ele precisa produzir,crescer dentro da or­ganização e se preparar para assumir novos cargos. Então, é mais fácil administrar na iniciativa privada. No caso da iniciativa privada, quem corre o risco de ser mandado em­bora é o funcionário, diferente do poder público.

Tribuna Ribeirão – Nas lojas do Savegnago, o consumidor tem a sensação de que exis­tem mais funcionários do que nos concorrentes. Isso é real?
Chalim Savegnago – Nossa preocupação é que o consu­midor tenha a percepção de que existem pessoas à dispo­sição para atendê-lo. Moni­toramos tudo, como o tempo que ele fica na fila. Temos a maior venda por metro qua­drado em relação às maiores redes do país e isso prova que essa preocupação tem dado certo. O maior custo da rede é a folha de pagamento que é pouco mais de 50% de todas as despesas da loja.

Tribuna Ribeirão – Com­parativamente com seus concorrentes este índice de funcionários por loja é muito superior?
Chalim Savegnago – Nosso foco é calculado pela venda per capta como um todo. O quanto uma loja contribui com o faturamento total do grupo serve como parâmetro para estabelecer quantos funcionários precisamos naquela loja. Tudo o que fazemos é baseado em mo­nitoramento. Nada é feito no ‘achômetro’.

Tribuna Ribeirão – Segundo especialistas, a tecnologia de gestão é o grande diferencial para o setor. Como o Saveg­nago se posiciona dentro deste contexto?
Chalim Savegnago – Acredito que tecnologicamente es­tamos no tempo certo. Nem na frente e nem atrasados. Temos todas as informações necessárias para a gestão do nosso negócio. O que existe no mercado está à nossa disposição e quando verifi­camos que esta tecnologia pode ser melhorada para atender nossas necessidades sugerimos, customizamos. Acompanhamos tudo através de relatórios diários, sema­nais, quinzenais e mensais. Além de termos equipes tra­balhando para medir e avaliar nossas necessidades.

Tribuna Ribeirão – O cliente é o foco desses relatórios?
Chalim Savegnago – No caso do cliente atende­mos mais de três milhões por mês e sabemos quando cada um deles vai em cada uma de nossas lojas; quanto gasta e o que compra. Sabemos, por exemplo, se um cliente que comprava carne conosco não está comprando mais. Esses dados são importantes para nossa análise de mer­cado e para nossas ações. Mantemos contato com nos­sos clientes por SMS (men­sagens via celular), e-mail e outros dispositivos. Todo cliente nos interes­sa, menos o comerciante, aquele que vem comprar em nossas lojas para revender em seu negócio.

Tribuna Ribeirão – O senhor afirmou que uma das ca­racterísticas do grupo é a valorização do relacionamen­to com os clientes. Por estar crescendo num ritmo acele­rado, existe receio em pecar nesse quesito no futuro?
Chalim Savegnago – Digo que quando iniciamos, há 42 anos, criamos a cultura com foco no atendimento e, hoje, com mais de oito mil funcionários continuamos mantendo isso. Não adianta eu ir para mídia dizer que temos excelente atendi­mento. O cliente precisa ter essa percepção. Ele preci­sa perceber isso e elogiar nossos serviços e funcioná­rios. O preço é o mais frágil mecanismo de concorrência. Porque na hora que alguém oferece preço menor do que o seu, acabou a sua e mpre­sa. O que mais sustenta o negócio e o crescimento é o compromisso em atender bem e isso envolve todas as necessidades do cliente e não apenas o ‘sorriso’. Em Limeira, onde inauguramos nossa loja recentemente, recebi um áudio de uma cliente se mostrando admi­rada em ver como a equipe é comprometida com o que faz. Se tiver uma caixa de papelão no chão do super­mercado e um funcionário passa e chuta, aquilo não atingiu diretamente o cliente, mas quando ele vê isso, se sente incomodado.

Tribuna Ribeirão – E o que o Savegnago faz para manter o funcionário motivado?
Chalim Savegnago – Valori­zamos ele. Além do salário e dos benefícios previstos em lei, valorizamos eles com a participação no lucro sobre os resultados da loja e do setor em que ele trabalha. O funcionário que trabalha em uma loja que vende mais e em que seu setor tem melhor desempenho, recebe mais por isso.

Tribuna Ribeirão – Qual o lucro líquido da Rede?
Chalim Savegnago – Nos­so objetivo é atingir os 2% líquidos. Mas no último ano atingimos cerca de 1,6%.

Tribuna Ribeirão – O slogan “A rede forte do interior” dá ênfase, claro, para o inte­rior do Estado. Não existe a pretensão de expandir para as capitais?
Chalim Savegnago – O slo­gan pode ser mudado (risos). Não está nos nossos pla­nos, ainda, chegar a capital. Temos nosso planejamento feito até 2025 e temos a relação de cidades em que existe potencial e onde pretendemos investir. Por exemplo, Uberlândia não está em nosso planejamento e por mais que alguém nos ofereça uma área com preço muito bom lá, não temos interesse. Atualmente estamos inves­tindo na região de Campinas. Nosso objetivo é ser líder do mercado nas cidades onde atuamos. Das 16 cidades em que temos loja somos líder de venda em treze. Nosso foco nas cidades onde abrimos loja é ser uma opção e não um predador.

Tribuna Ribeirão – O grupo já encontrou dificuldades para abrir lojas em determi­nada cidade em função da estrutura, bairrismo ou algum ‘empecilho’ político?
Chalim Savegnago – Dificul­dades nós já encontramos e ainda existem, mas não vou culpar alguém por tentar boicotar. Isso é resultado da burocracia que existe até nas cidades onde já estamos.

Tribuna Ribeirão – Como o senhor avalia a legisla­ção que regula os produtos alimentícios, como a que trata, por exemplo, da data de validade dos produtos?
Chalim Savegnago – A legislação era muito aberta, mas agora existem exageros. O sal, que desde a época das navegações, sempre foi usa­do para conservar e estender a vida útil de produtos como a carne, agora tem prazo de validade. Fósforo tem data de validade… Pegaram a régua e colocaram ela em tudo.

Tribuna Ribeirão – O que é preciso fazer para crescer e não cometer equívocos como alguns hiper mercados cometeram?
Chalim Savegnago – O modelo dos hiper mercados foi muito bom no período de inflação elevada quando as pessoas faziam suas com­pras de uma vez, para o mês todo tentando se livrar dos aumentos constantes. Mas, este modelo foi perdendo im­portância porque as pessoas começaram a fazer compras ao longo do mês. O modelo do hiper, geralmente loca­lizado às margens de rodo­vias, está perdendo espaço, porque o consumidor mudou o hábito de consumo. O fato dos supermercados esta­rem mais próximos da casa do cliente e de oferecerem produtos que no passado ele conseguia em outros locais, como verduras e legumes, fez ele mudar esse hábito.

Tribuna Ribeirão – Uma mudança verificada na pu­blicidade dos supermer­cados é em relação ao cheque pré-da­tado. Este tipo de benefício tem diminuído?
Chalim Saveg­nago – O pro­duto mudou e no nosso caso, temos nosso próprio cartão que faz o papel do cheque. O sis­tema financeiro está acabando com o cheque porque os bancos mudaram e querem que o cliente resolva a maioria dos seus assuntos pela internet. E se o banco não tem mais foco no talão de cheque, nós também deci­dimos mudar. Ainda pegamos cheque pré-datado, mas o nosso cartão tem vantagens como descontos e parcela­mentos. Hoje temos cerca de 130 mil clientes que pos­suem o cartão Savegnago.

Tribuna Ribeirão – O Sa­vegnago tem investido nas vendas pela internet?
Chalim Savegnago – Estas vendas têm crescido, mas significa muito pouco do faturamento da empresa. Estamos investindo, mas tendo como cuidado o tempo necessário para a separação dos produtos, a qualidade deles e todo o processo de logística para a entrega ser bem feita e atender os de­sejos do cliente. Temos que criar soluções para ampliar este tipo de venda sem que essa ampliação crie proble­mas para a Rede.

Tribuna Ribeirão – No que consiste a parceria do Saveg­nago com o Senac?
Chalim Savegnago – Essa parceria criou em Sertãozi­nho a Escola de Supermer­cado, inaugurada em junho de 2018. Ela oferece desde curso de açougue, padaria até operador de supermerca­do. Trouxemos o Senac para Sertãozinho e os cursos que o Senac não têm, estamos customizando para as nossas necessidades. Se um fun­cionário quer se aprimorar ou mudar de função pode fazer o curso fora do horário de trabalho dele. Temos 138 vagas e uma fila de espera de mais de mil pessoas. Os cursos também são direcio­nados para adolescentes, os chamados aprendizes, criados por lei federal. Hoje existem 60 deles fazendo o curso e mais de 450 esta­giando na Rede.

Tribuna Ribeirão – O que faz a Fundação Aparecido Savegnago?
Chalim Savegnago – Meu pai faleceu há doze anos e nós criamos a entidade há dez. Ela oferece atendimento cultural para famílias em vulnerabilidade social, sendo 70% das vagas para este público e 30% para filhos de funcionários. São oferecidas aulas de música, dança, artes cênicas e pintura. Temos 230 crianças atendidas e uma orquestra, com apoio de professores da Sin­fônica de Ribeirão Preto. A instituição é independente da Rede e tem dire­toria, estatuto e sede próprias. Nós passare­mos e o nosso objetivo é per­petuar a entida­de com este trabalho social importante. Oito alunos que passaram pela entidade estão fazendo faculdade na USP de Ribeirão Preto. A entidade faz um acompanhamento escolar da vida do aluno e de sua família.

Tribuna Ribeirão – Que perspectiva o senhor vê para a economia brasileira?
Chalim Savegnago – Sou otimista e acredito que temos futuro. Por que estamos numa crise? Porque já tive­mos dias melhores. Se não tivéssemos chegado a 6% de crescimento na econo­mia brasileira, não teríamos conseguiríamos enxergar os números ruins. Sou leigo no assunto, mas a minha per­cepção é que podemos voltar ao índice de desenvolvimento que já atingimos no passado.

Tribuna Ribeirão – O governo está no caminho certo?
Chalim Savegnago – Eu acre­dito que o clima de otimismo no país vai ajudar na mu­dança. Agora se as medidas tomadas pelo governo são as melhores, eu não sei afirmar isso porque não sou especia­lista. O que sei é que o país precisa ser passado a limpo.

Tribuna Ribeirão – Sertão­zinho tem várias famílias tradicionais na política. O senhor já foi convidado para ser candidato a um cargo eletivo?
Chalim Savegnago – Minha família não tem nenhum in­teresse em concorrer a cargo político. Nunca foi sondado e não tenho interesse nisso. A política não está no sangue da família e isso poderia mudar o rumo do que cons­truímos ao longo de nossa história. Já fui presidente da Associação Comercial de Sertãozinho e sou diretor da Apas – Associação Paulista de Supermercado – e se precisar ajudar em alguma Comissão que tenha como proposta a melhora da so­ciedade e do setor supermer­cadista, estou pronto para ajudar.

Tribuna Ribeirão – O senhor costuma visitar as lojas?
Chalim Savegnago – Cos­tumo, mas não tanto como gostaria. Se não estivesse dando esta entrevista, estaria visitando uma de nossas lojas agora. (risos).

Tribuna Ribeirão – Costuma avisar sobre o dia e horário em que irá?
Chalim Savegnago – Se você quer se feliz, avise com ante­cedência. (risos).

Tribuna Ribeirão – O que o senhor faz nos seus momen­tos de lazer?
Chalim Savegnago – Depois da família, gosto de andar de mula e ainda pretendo arru­mar um tempo para conhecer Fernando de Noronha.

Tribuna Ribeirão – Como o senhor conseguiu o apelido Chalim?
Chalim Savegnago – Ele vem da infância e foi colocado por meus irmãos mais velhos. Nós morávamos na zona rural de Matão e, naquela época, quando algum dos filhos ficava doente, o remé­dio que tomava era, caseiro. Uma vez tive gripe e minha mãe fez um chá de alho para eu tomar. Tomei e passei mal e aí meus irmãos ficaram me chamando de ‘chá’. Daí, para Chalim foi um pulinho. Se eu tivesse ficado gran­dão, o apelido certamente seria ‘Chalão’…

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