Tribuna Ribeirão
Política

O marketing político e as eleições de 2026

Se o pleito fosse hoje, 393.370 ribeirão-pretanos seriam obrigados a votar, 85,79% do total de 458.538 eleitores; voto é facultativo para 65.168 moradores (14,21%) Foto: Reprodução

Com a ascensão das redes sociais e o declínio da confiança nos partidos, o marketing político brasileiro passa por uma reinvenção para tentar conquistar eleitorado nas eleições marcadas para outubro do próximo ano, quando serão eleitos presidente da República, governadores, senadores e deputados federais e estaduais. 

A mudança tem sido provocada por um ambiente saturado por desinformação, polarização e cansaço do eleitor. Por isso, as campanhas eleitorais precisarão ir além de promessas genéricas e peças publicitárias tradicionais.  

Essa necessidade de readequação é comprovada por dados recentes que ajudam a compreender o comportamento do brasileiro e a necessidade de adaptação das campanhas. Segundo o levantamento Digital News Report, produzido pela Universidade de Oxford e o Instituto Reuters, o Brasil é considerado um dos países com maior uso de redes sociais como fonte primária de informação política, especialmente entre jovens de 18 a 34 anos. 

Atualmente, o Brasil também é o 5º país do mundo em que a população passa mais horas nas redes sociais por dia, cerca de 9 horas. Fica atrás apenas do Quênia, Chile, África do Sul e Filipinas. Já quando o assunto é seguir influenciadores, ocupa o segundo lugar. 

Cerca de 41,8% de quem usa redes sociais no país segue influencers. E quando se observa o consumo de notícias via redes sociais, esse número aumenta, chegando a 52,8%, deixando o Brasil em segundo lugar no ranking mundial. 

Segundo pesquisa do Instituto DataSenado, ligado ao Senado Federal, 79% dos brasileiros usam o WhatsApp como principal canal de informação sobre política e sociedade, seguido por YouTube (49%), Facebook (44%) e TV aberta (43%).  

Isso significa que 45% dos eleitores, em alguma eleição, já decidiram seu voto com base em conteúdos vistos nas redes sociais, evidenciando o papel central que plataformas digitais passaram a ter nas disputas eleitorais. 

Para o publicitário e especialista em marketing político, Guto Araújo “as campanhas eleitorais estão cada vez mais tecnológicas, mais agressivas e emocionalmente polarizadas. Há uma disputa constante por atenção, muitas vezes baseada no medo ou no confronto”, revela. 

De acordo com o profissional, não basta mais ter boas propostas e uma estética eficiente. “É preciso entregar coerência e conexão emocional. O eleitor de hoje está mais informado, porém também mais saturado. Quem pauta o debate público hoje é quem utiliza como matéria prima o que já está sendo debatido”, analisa. 

Com isso, segundo ele, a tecnologia e as redes sociais estão redesenhando o campo político, mas isso exige responsabilidade. “Os próximos ciclos eleitorais no Brasil serão definidos não apenas por grandes orçamentos, mas pela capacidade de engajar um público cada vez mais digital, crítico e vigilante”, avalia. 

 

O que deve tomar conta das eleições em 2026 

Digitalização estratégica: plataformas como TikTok, Instagram e WhatsApp deixaram de ser apenas canais de divulgação e se tornaram arenas centrais de disputa simbólica. O uso de dados, automação e linguagem segmentada é fundamental para alcançar públicos diversos com precisão. 

Gestão da confiança e da reputação pública: o eleitor de hoje não avalia apenas o discurso do candidato, mas sua trajetória, posicionamentos anteriores e coerência ao longo do tempo. A construção de uma imagem confiável é tão relevante quanto as propostas de governo. 

Storytelling e emoção como diferenciais competitivos: a emoção é um gatilho de memória e decisão política. Por isso, narrativas autênticas e bem construídas são capazes de gerar identificação, mobilizar afetos e engajar diferentes segmentos do eleitorado. 

Resposta ágil e profissionalização multidisciplinar: campanhas eficientes contam hoje com equipes que reúnem criativos que já pensem os formatos e textos de peça a partir de uma perspectiva digital. Além disso, especialistas em comportamento para monitorar o ambiente digital e reagir rapidamente a crises, ataques e fake news. 

Participação ativa do eleitorado: ferramentas de escuta social, grupos focais e canais de feedback direto estão transformando o eleitor de receptor passivo em cocriador das mensagens. A lógica vertical da comunicação política está cedendo lugar a abordagens mais horizontais, dialogadas e colaborativas. 

 

STF reafirma inconstitucionalidade do voto impresso 

Tribunal já declarou duas vezes que medida viola o sigilo do voto, apesar da insistência de políticos em alimentar narrativas de desconfiança eleitoral 

Com um dos mais destacados sistemas de captação, armazenamento e apuração de votos, o Brasil tornou-se referência internacional ao conseguir expandir a votação eletrônica para todos os eleitores. Segundo o Instituto para Democracia e Assistência Eleitoral Internacional (Idea) – uma organização intergovernamental que apoia democracias sustentáveis em todo o mundo e que conta com 34 países-membros, como Suíça, Portugal, Noruega, Austrália e Canadá, além do Brasil –, o voto eletrônico já é adotado por pelo menos 46 nações. 

Apesar deste reconhecimento, a proposta sobre o voto impresso voltou a ser debatida no Congresso Nacional, reacendendo preocupações sobre possíveis conflitos entre os Poderes e os impactos na confiança da população no sistema eleitoral brasileiro. Anteriormente, o Supremo Tribunal Federal (STF) já havia declarado o voto impresso como inconstitucional em 2013 e, novamente, em 2020. 

O Projeto de Lei Complementar (PLP) 112/2021 que prevê a impressão do voto na urna eletrônica foi aprovado em agosto pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. O projeto pretende substituir o atual Código Eleitoral (Lei nº 4.737/1965) e outras leis, para consolidar toda a legislação eleitoral e partidária. 

Se a proposta for aprovada em plenário até 3 de outubro, o voto impresso poderia, em tese, ser implementado nas eleições de 2026. A Constituição Brasileira em seu artigo 16 exige que alterações eleitorais entrem em vigor com pelo menos um ano de antecedência ao pleito.  

Entretanto, especialistas alertam que, além dos obstáculos jurídicos, haveria também entraves técnicos e logísticos para viabilizar a mudança em tão curto prazo. Em decisões unânimes, os ministros do STF entenderam que a impressão do voto compromete um dos pilares da democracia: o sigilo. A possibilidade de identificação do voto poderia abrir espaço para práticas de intimidação, compra de votos e outras formas de coerção. Além disso, o Tribunal tem sustentado que o sistema eletrônico brasileiro já é seguro, auditável e dispensa a contagem manual de votos. 

Na avaliação do advogado Constitucionalista Antônio Carlos Freitas insistir na aprovação de uma proposta considerada inconstitucional pelo próprio STF representa um risco à harmonia entre os Poderes. Ele frisa que, caso a proposta seja aprovada pelo Senado e sancionada pelo Presidente da República, é praticamente certo que será alvo de nova Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN). 

“Mesmo que o projeto avance no Congresso, a jurisprudência do STF já está consolidada. A tendência é que a norma seja rapidamente questionada judicialmente, o que pode gerar um novo embate institucional entre Legislativo e Judiciário”, acrescenta o especialista. 

Além da tensão entre os Poderes, o debate sobre o voto impresso em ano pré-eleitoral pode fragilizar a confiança no sistema eleitoral. Segundo o especialista, colocar em dúvida a lisura das urnas eletrônicas, amplamente reconhecidas por sua segurança, pode incentivar narrativas de polarização e deslegitimação do processo democrático. 

 “Imagine-se um processo de recontagem manual de votos impressos com simples possibilidades de impressão de papéis semelhantes e fraudulentos e a contagem equivocada por humanos, seja intencional ou acidental. A bravata do voto impresso, na realidade, diminui os níveis de proteção do voto e serve a uma agenda que deseja fragilizar o próprio processo democrático”, finaliza. 

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