Tribuna Ribeirão
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“O Mystério” 

Rui Flávio Chúfalo Guião *
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A editora HarperCollins Brasil, através de sua marca Casa dos Livros Editora, acaba de relançar o que é considerado o primeiro romance policial a ser editado no Brasil, ‘O Mystério”.

Surgiu em 1920, como folhetim, nas páginas diárias do jornal carioca A Folha, de propriedade de Medeiros e Albuquerque, provocando tanto sucesso que Monteiro Lobato o edita em livro.

A obra foi caindo na obscuridade com o tempo e o seu relançamento é interessante oportunidade de se ler a primeira história policial produzida no Brasil.

E o trabalho original tem uma característica própria da época, pois é um romance de colaboração, ou seja, escrito por quatro escritores de expressão, numa técnica em que o primeiro autor não sabe o que o segundo vai escrever e assim sucessivamente.

Cada capítulo prepara o posterior e todos os autores vão construindo o mistério sem saber  o enredo da obra. A técnica exige grande criatividade, pois o escritor do dia lê o que foi escrito e procura dar continuidade ao desenrolar do mistério.

O romance de colaboração surgiu na França, em 1846 e no Brasil a primeira obra do estilo data de1866, “A Casa dos Carcereiros”. Em 1870 chega a Portugal, quando em Lisboa se publica livro de Eça de Queirós e Ramalho Ortigão.

“O Mystério” foi escrito por quatro grandes da literatura nacional, todos integrantes da Academia Brasileira de Letras: Coelho Neto, Afrânio Peixoto, Viriato Correa e Medeiros e Albuquerque, que usava  o pseudônimo de &.

Henrique Maximiano Coelho Neto foi escritor, contista, folclorista, romancista, crítico e teatrólogo, dono de vasta obra e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Político, foi deputado federal e bastante engajado na abolição da escravatura. Era maranhense.

Júlio Afrânio Peixoto teve destaque nacional tanto na medicina, quanto na literatura. Professor universitário, deu grande contribuição ao estudo das doenças tropicais. Na literatura, foi romancista, contista e foi graças a ele que a França doou à Academia Brasileira de Letras o edifício  de sua sede, erguido  como pavilhão daquele país na Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil. Era exímio orador. Nasceu na Bahia.

Manoel Viriato Correia Baima do Lago Filho foi jornalista, escritor, dramaturgo e político. Advogado, praticou pouco sua profissão e dedicou-se bastante ao jornalismo. Político, militou até a revolução de 1930, quando foi preso. Solto, dedicou-se à literatura, tendo deixado vasta bibliografia. Era maranhense.

José Joaquim de Campos da Costa de Medeiros e Albuquerque foi professor, jornalista, político, contista, poeta, romancista, teatrólogo, ensaísta e memorialista. É o autor da letra do Hino da Proclamação da República e deixou vastíssima obra literária. Era pernambucano.

A história policial desenvolvida pelos quatro literatos gira em torno da promessa feita à mãe no leito de morte por um jovem: haveria de matar o banqueiro que fora o autor da destruição e desgraça da família.

Para tanto, precisa elaborar o roteiro de um crime perfeito. Decide então que matará a vítima em torno das 20h, adiantará os relógios da casa para as 23h, destruindo-os parcialmente, mas de tal sorte que a polícia seja levada a concluir que esta foi a hora do crime.

Paralelamente, roubará umas cocadas de um tabuleiro de baianas, à vista de policiais, para ser pego por um crime cometido em torno das 20:30h, álibi perfeito.

E assim faz.

Os autores fazem várias considerações aos métodos policiais de então e suas atuações.

Meio rocambolesco, o enredo evolui para o assassino descobrir que é filho do morto e meio-irmão da mulher que ama.

De leitura fácil, embora usando frases da época, o livro descreve o dia a dia dos cariocas e deixa entrever que a maior diversão foi a dos autores em escrevê-lo.

* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e secretário-geral da Academia Ribeirãopretana de Letras 

 

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