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O Napoleão de hospício e o gabinete do ódio

Estava eu já rascunhando o próximo artigo para o Tribuna sobre um paralelo histórico entre a peste negra e o coronavírus quando fomos todos surpreendidos pelo desastroso pronunciamento de Bolsonaro na terça-feira à noite. Aí não resisti. Não poderia deixar de comentar esta que foi uma das falas mais repudiadas da história da República. E deixei a outra história para depois.

Vi um comentarista da Globo News chamar o presidente de “Na­poleão de hospício”. A expressão é usada para se referir a pessoas que são instigadas a supercompensar uma incapacidade percebida, em outros aspectos de suas vidas. Neste caso, não existe a menor dúvida que a tal incapacidade percebida é o quociente de inteligência que falta por completo a Bolsonaro. Que ele tem vocação para Napoleão, não duvidamos. Mas o hospício torna as coisas ainda piores.

O hospício começa pelo seu entorno imediato. É o chamado “gabinete do ódio”. Trata-se de um grupo capitaneado pelo filho 02, o Carlucho, especializado em preparar os discursos mais fanáticos do presidente. É o núcleo duríssimo obediente a Olavo de Carvalho. Sabe-se que foi este núcleo que ajudou a redigir o pronunciamento da terça-feira, apesar de negado pelo presidente. Mas ser mentiroso é o de menos para ele.

O gabinete do ódio, na verdade, não fica intramuros. Ele se espalha por toda a sociedade disseminando o que há de pior em termos de ignorância, mentiras e falta de educação. É um segmento da sociedade que, ainda bem, está em refluxo. Isso é perfeitamente perceptível. Nas redes sociais, principalmente na minha fanpage, lido diariamente com este gabinete do ódio ampliado, principalmen­te aqui em Ribeirão.

É o pessoal que passou pela escola e até pela faculdade e não ti­rou nenhum proveito. Não conseguem articular e argumentar nada. Acredito que nunca escreveram sequer um parágrafo. Interpretação de texto? Ah, é querer demais. Quando percebem do que se trata (e acho que tem dificuldades até para isso), logo já vem um “profes­sorzinho de merda”. Fora as outras tradicionais que se repetem: vai pra Cuba, esquerdopata, petista, vagabundo, funcionário público, acabou a mamata etc..

Mas voltemos ao Napoleão de hospício. Bolsonaro, antes de ser um louco, é um psicopata. E como psicopata, o seu pronunciamento de terça foi milimetricamente calculado com o gabinete do ódio. Ele tentou agir com esperteza ao não se comprometer com as medidas drásticas e necessárias de isolamento social, pois sabia que a popula­ção, os cientistas, os profissionais da saúde e os governadores fariam isso, até por uma obrigação legal.

Ele também imagina que a pandemia poderá não se agravar como em outros países, e se limitar a poucos casos, já que muitas medidas foram tomadas a tempo de se evitar o pior. É uma hipótese que ele assume. No entanto, não é à toa que ‘Boçalnaro’ e os em­presários que lucram com suas políticas econômicas não param de repetir que o isolamento é exagero e irá quebrar a economia, gerará desemprego etc.. Vocês viram o que disse o dono do Madero?

Para o Napoleão de hospício o ‘corona’ caiu do céu, pois é a chance de achar um culpado, quando tudo isso passar, para a profunda reces­são que ele e seu ministro Paulo Guedes já haviam produzido antes da crise, ou seja, ele e seu governo já quebraram o país e agora poderão assumir isso pondo a culpa na oposição, no PT, na esquerda. Inimigos fictícios que ele e seus bolsominions nunca esquecem.

Ele e o seu gado vão dizer que os inimigos do Brasil bancaram a histeria de parar o país diante de uma gripezinha que matou pouca gente, mas que quebrou a economia e gerou o desemprego.
Neste cenário, o Napoleão de hospício pretende aparecer como o herói que gritou sozinho pela razão e pelo país contra os inimigos. Mas, pelas reações, o tiro está saindo pela culatra. A grande maioria das pessoas já está percebendo que ‘Boçalnaro’ é o próprio coronavírus, é o próprio anjo da morte.

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