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O que fazemos e deixamos de fazer por conta de padrões de beleza 

Não se adequar ao padrão imposto, principalmente pelas redes sociais, pode provocar sentimentos de inadequação, frustração, fracasso e levar as pessoas a fazerem intervenções equivocadas no organismo (Reprodução)

Por Adriana Cristofoli 

 

Paolla Oliveira anunciou recentemente que este será seu último ano como rainha de bateria da Grande Rio. A atriz, de 42 anos, falou de pressão estética ao anunciar a despedida do Carnaval e explicou que pretende focar mais na vida pessoal e profissional. Paolla publicou sua decisão em sua conta no Instagram e entre os comentários teve gente que afirmou “que queria ter a autoestima de quem fala mal do corpo de Paola”. 

A atriz Paolla Oliveira se despede do carnaval e cita pressão estética que sempre sofreu por considerada fora dos padrões (Reprodução/Redes Sociais)

A pressão estética, que já é grande, aumenta com a proximidade do Carnaval, e altera os níveis de stress na busca pelo corpo perfeito. Uma pesquisa da Mental Health Foundation verificou que 60% das pessoas sofrem de ansiedade antes de eventos sociais. 

Para o psicólogo Felipe Areco, mestre em Ciências pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP-USP) e doutor em Ciência, Tecnologia e Sociedade pela Universidade de São Carlos (UFSCar), a pressão estética pode afetar profundamente a autoestima, a saúde mental e até as decisões de vida das pessoas. “A cobrança por um corpo ou aparência dentro de padrões muitas vezes inalcançáveis ​​gera insegurança, ansiedade, transtornos alimentares e até depressão”, alerta. 

Areco explica que a pessoa pode limitar experiências, como: evitar sair ou socializar por medo ou receio; não ir à praia, piscina e academia para evitar fotos ou vídeos e ainda, adiar sonhos e objetivos, como um relacionamento, por exemplo.  

“É fundamental destacar o que as redes sociais, filtros e aplicativos de correções no corpo de maneira geral tem causado. A violência psicológica que as pessoas se inserem ao se utilizarem desenfreadamente dos filtros, por exemplo, é algo delicado e deve ser cauteloso ao se abordar tal assunto”.   

Para Areco a pressão estética pode afetar profundamente a autoestima, a saúde mental e até as decisões de vida das pessoas (Arquivo pessoal )

Segundo o psicólogo, a família, amigos e pessoas próximas podem ser uma rede importante para a sinalização dos exageros que podem ser causadores de sofrimentos físicos e psicológicos, não somente no presente, mas num futuro.  

Outra questão importante são os procedimentos. “Muitas vezes a submissão à procedimentos estéticos arriscados para se encaixar em padrões que a sociedade impõe, podem gerar um grande transtorno”, analisa. “Tenho notado que no último ano a procura por psicoterapia tem aumentado exponencialmente, e muitas vezes a procura tem uma demanda inicial (que nem sempre é pelas questões estéticas), mas que surgem no decorrer do processo e em especial nas minhas experiências, as mulheres têm aparecido mais”, observa.  

Areco faz um alerta importante dizendo que ao observar os exageros e “caso isso seja sinalizado por alguém que tenha uma aproximação com você, vale a pena a busca por ajuda de profissionais capacitados, seja a medicina ou a psicologia”. 

 

Corpo real e corpo virtual  

Somente nos últimos dez anos, houve um aumento de 141% no número de procedimentos entre jovens de 13 a 18 anos, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Entre as cirurgias mais procuradas estão os implantes de silicone, a rinoplastia e a lipoaspiração.  

Entre as cirurgias mais procuradas estão os implantes de silicone, a rinoplastia e a lipoaspiração (Reprodução )

Para o psicólogo Michel Simões, essa procura está muito ligada a um conflito entre aquilo que os indivíduos gostariam de ser e o que é exigido para que se considerem ajustados à sociedade. Diz que a insatisfação com a própria imagem vem da infelicidade causada por “dificuldades em se sentir capaz ou insuficiente para lidar com o mundo, a sociedade e a realidade de uma forma geral”.  

Segundo ele, as redes sociais desempenham um papel importante nesse processo de insatisfação, seja pelo alcance “que elas proporcionam quanto pelas possibilidades que elas oferecem”.  

Simões acredita que o universo virtual, ao veicular a ideia de corpo e estilo de vida perfeitos como algo real e concreto, cria padrões e ideais de beleza que são inatingíveis. “Todo esse mecanismo dificulta a integração daquilo que se tem a oferecer e torna os recursos pessoais de cada um insuficientes, porque, aquilo que é natural é imperfeito e, portanto, diferente daquilo que se posta e compartilha.” 

 

Mercado da estética se alimenta da insatisfação  

Dariene Castellucci, psicóloga clínica e mestre em Saúde Mental, também tem notado um aumento de atendimentos no consultório, onde subliminarmente a questão estética está presente.  

“É uma demanda que embora não se apresente no primeiro momento, permeia muitos casos, pois o marco de nosso tempo é a imposição de padrões estéticos, sendo os corpos magros, altos, malhados, para mulheres serem loiras com cabelos longos, nariz fino e arrebitado, lábios volumosos e ser jovem”, detalha. 

Dariane: “A vida torna-se segundaria quando está na disputa ser aceitavelmente belo” (Arquivo Pessoal)

A psicóloga diz que “esses e outros tantos imperativos são diariamente impostos sobre nós e tem como veículo principal as redes sociais”.   

Não se adequar ao padrão imposto, “pode provocar sentimentos de inadequação, frustração, fracasso, baixa autoestima, entre outros prejuízos para a saúde mental”. Outra atitude negativa é “levar as pessoas a se submeterem a procedimentos estéticos invasivos sem a segurança de estarem com profissionais confiáveis, ou seja, a vida torna-se secundaria quando está na disputa ser aceitavelmente belo” 

Dariene ressalta que os padrões estéticos se alimentam da insatisfação constante de homens e mulheres e sempre haverá uma nova adequação a ser feita, sendo a fundamentação desta lógica, o mercado lucrativo da estética.  

Como aumentar a autoestima? 

Para a Dariene, precisamos entender que nosso incomodo com o próprio corpo não é algo isolado, aquela famosa frase “só acontece comigo”. A psicóloga diz que precisamos compreender que essa insatisfação ela é um fenômeno social, cultural que nos atravessa e que levar informações sobre o que é pressão estética, como ela se apresenta para nós e como estamos reféns é o primeiro passo para entender o quanto isso nos afeta. “Não é natural odiarmos nossos corpos e querermos nos punir o tempo todo por não atender aquilo que nos é ensinado que é “belo”, explica. 

Assim, continua Dariene, o autoconhecimento, olhar para sua história e entender como você foi construindo a relação com seu corpo e com quem você é muito importante e a psicoterapia é uma grande aliada nessa jornada de construir nossa singularidade. “Entender aquilo que é seu e o que é do outro, entender os limites e potencialidades do seu próprio corpo e cada expressão que ele tem que é única. Como diz, Caetano Veloso: “Cada um sabe a dor e a delícia ser quem é”, isso que o processo psicoterapêutico nos ajude a descobrir e lidar nossas dores e descobrir nossas delícias”, orienta.  

Outra dica importante da psicóloga é se afastar do ambiente que nos faz mal. “Não dá para se cuidar continuando nos espaços que nos adoeceram, portanto é essencial que vejamos como fazemos uso das redes sociais, quais perfis seguimos e se conseguimos olhar as postagens com criticidade”. Isso significa que “essa sequência de vídeos e fotos não é a realidade completa da vida desta pessoa, a realidade não tem edições e formatações, ela não iria postar seu pior ângulo e olhar como você se sente ao se expor nas redes sociais”.  

Por fim, “informação e autoconhecimento é um combo poderoso para que possamos lidar com essa imposição de nosso tempo que é a pressão estética, não estaremos livres dela, mas vamos construir recursos para preservar nossa saúde mental e física e manter nossa singularidade frente a padronização do “ser”, finaliza Dariene. 

 

 

 

 

 

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