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O suplemento alimentar nos lares brasileiros 

Suplementos tem a função de complementar a dieta, mas o uso sem orientação, além de comprometer o bolso, pode até prejudicar a saúde 

Segundo a ABIAD - Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres, os produtos estão presentes em 59% dos lares brasileiros, com no mínimo uma pessoa consumindo suplementos (Reprodução/Redes Sociais)

Por Adriana Cristófoli 

Nos últimos tempos, os suplementos alimentares têm ganhado cada vez mais popularidade. As pessoas buscam nestes compostos uma contribuição para dieta, desempenho esportivo, rejuvenescimento, bem-estar e saúde em geral. 

Segundo a ABIAD – Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres, o consumo de suplementos alimentares no Brasil aumentou 10%, em comparação à primeira edição da pesquisa, em 2015. Também apurou que os produtos estão presentes em 59% dos lares brasileiros, com no mínimo uma pessoa consumindo suplementos.   

Com essa procura, as ofertas e variedades sobre estes produtos aumentaram muito e quem não é da área, se confunde diante de tantas opções. Muita gente acaba tomando essa suplementação sem nenhuma orientação especializada e pode inclusive, prejudicar a saúde.  

Barbim acredita que há muito exagero no consumo de suplementação (Arquivo Pessoal)

Suplementos não substituem uma boa alimentação. “Eles são produtos que têm como objetivo complementar a dieta, fornecendo nutrientes que podem estar em falta ou em quantidades insuficientes na alimentação diária”, explica o nutricionista Renato Barbim. “Além disso a comida tem complexidade: volume, mastigação, paladar, olfato, relação de afeto, etc”, observa. 

Para ele há muito exagero no consumo de suplementação. “A indústria de suplemento, assim como qualquer outra, visando lucro a qualquer regra, lança produtos diariamente sem nenhuma necessidade e sem estudos com bom embasamento técnico. Paga profissionais da saúde para falarem bonito e defenderem determinado produto, sem qualquer sentido”, alerta Barbim.  

Os suplementos mais procurados segundo o nutricionista são os suplementos em pó para complementação de proteínas, creatina, vitaminas e minerais. “Se bem prescrito, os suplementos ajudam até no emagrecimento, mas fazem parte de um contexto e por consequência podem ajudar na construção de tecido magro, lembrando que a dieta é muito mais importante”, ressalta. 

Redes sociais e internet 

Matheus Rosa da Silva, estudante do último ano do curso de Nutrição e Metabolismo na Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto diz que hoje, no mercado de suplementação, existem uma infinidade de opções, das mais variadas marcas, com composições diferentes, com inúmeros nutrientes e princípios ativos distintos, mas no final, ou é tudo a mesma coisa ou não possui uma aplicabilidade prática tão relevante quanto parece. “E o que isso quer dizer? Quer dizer que nem sempre um produto que está em circulação no mercado vai ser realmente bom, como prometem”, alerta. 

Matheus diz que com a internet e as redes sociais, tudo é muito dinâmico, rápido e superficial na maioria das vezes, e na área da nutrição isso também acontece (Arquivo Pessoal)

Matheus também lembra que atualmente, com a internet e as redes sociais, tudo é muito dinâmico, rápido e superficial na maioria das vezes, e na área da nutrição isso também acontece. “As grandes marcas apostam muito em propagandas, marketing digital e ações com os influencers, obviamente, com o intuito de vender os seus produtos. E isso acaba confundindo os consumidores. Com tanta informação, acabamos ficando perdidos no meio de tudo isso”, explica.  

A busca por um resultado rápido, muitas vezes fazem com que as pessoas, antes mesmo de começar na academia, na corrida de rua ou em qualquer outro esporte, já começam a procurar e comprar os suplementos, “como se isso fosse realmente surtir um efeito primordial na performance, no estilo de vida saudável, na recuperação e na consistência do exercício físico. Pelo contrário, na maioria das vezes, estão gastando o dinheiro que deveria estar sendo investido em algo mais importante”, esclarece. 

Outro ponto importante de se levar em consideração é que alguns suplementos podem até ter um certo grau de evidência científica, mas a porcentagem de efeito é tão pequena que o custo-benefício pode não valer a pena. “Um sono de qualidade e descanso adequado podem surtir um efeito mais significativo do que o suplemento por si só” orienta. 

Os suplementos que possuem maior grau de evidência científica, segundo Matheus, que realmente valem o custo-benefício para a maior parte da população normal, são: creatina, whey protein (que nada mais é do que proteína em pó) cafeína, carboidratos e alguns outros que servem para determinados tipos de esportes específicos, como beta alanina, nitrato, entre outros. 

Antes de iniciar a utilização de suplementos alimentares, é fundamental consultar um médico, nutricionista ou outro profissional de saúde qualificado. Esses profissionais poderão avaliar suas necessidades nutricionais específicas, identificar possíveis deficiências e orientar sobre os suplementos mais adequados para o seu caso. Além disso, eles poderão fornecer informações sobre as doses corretas, a forma de uso e possíveis interações medicamentosas, minimizando assim os riscos e efeitos colaterais associados ao consumo de suplementos alimentares. 

 

Benefícios dos suplementos alimentares utilizados de maneira adequada 

Melhoria da performance esportiva 

Atletas e praticantes de atividades físicas podem se beneficiar do uso de suplementos específicos que auxiliam na melhoria da performance, recuperação muscular e aumento de massa magra. Exemplos incluem proteínas, aminoácidos de cadeia ramificada (BCAAs), creatina e beta-alanina. 

Correção de deficiências nutricionais 

Suplementos alimentares podem ser úteis para corrigir deficiências nutricionais que possam surgir devido a dietas restritivas, condições de saúde específicas ou simplesmente pela dificuldade em obter determinados nutrientes através dos alimentos. Por exemplo, indivíduos que seguem dietas vegetarianas ou veganas podem necessitar de suplementação de vitamina B12, ferro e zinco. 

Promoção da saúde e bem-estar 

O uso de suplementos alimentares pode ajudar a melhorar a saúde e o bem-estar geral, fornecendo nutrientes e compostos bioativos que contribuem para o bom funcionamento do organismo e a prevenção de doenças.  

Vitamina D: a suplementação de vitamina D é especialmente importante para pessoas que vivem em regiões com baixa exposição solar ou que possuem dificuldade em sintetizar essa vitamina devido a condições de saúde específicas. A vitamina D desempenha um papel essencial na manutenção da saúde óssea e na função imunológica. 

Ômega-3: ácidos graxos ômega-3, como EPA e DHA, são importantes para a saúde cardiovascular, cerebral e ocular. A suplementação de ômega-3 pode ser especialmente benéfica para indivíduos que não consomem quantidades suficientes de peixes gordurosos, como salmão e sardinha, em sua dieta. 

Probióticos: os probióticos são microrganismos vivos que, quando consumidos em quantidades adequadas, podem trazer benefícios à saúde do sistema digestivo, fortalecer o sistema imunológico e ajudar na absorção de nutrientes. A suplementação de probióticos pode ser útil para indivíduos com desequilíbrios na flora intestinal, como aqueles que passaram por tratamentos com antibióticos. 

É importante lembrar que cada pessoa possui necessidades nutricionais específicas, e o uso de suplementos alimentares deve ser sempre orientado por um profissional de saúde qualificado. 

 

Riscos e efeitos colaterais dos suplementos alimentares 

Um dos principais riscos associados ao uso de suplementos alimentares é a sobredosagem, que pode ocorrer quando se consome uma quantidade maior do que a recomendada de um determinado nutriente. A toxicidade pode variar de acordo com o tipo de suplemento, sendo que algumas vitaminas e minerais possuem um limite máximo de segurança bem estabelecido. Por exemplo, a ingestão excessiva de vitamina A pode causar toxicidade aguda, levando a sintomas como náuseas, vômitos, tontura e até mesmo danos ao fígado. Da mesma forma, a ingestão excessiva de minerais como cálcio e ferro pode levar a problemas de saúde graves, como pedras nos rins e sobrecarga de ferro, respectivamente.  

Interação com medicamentos 

Alguns suplementos alimentares podem interagir com medicamentos, potencializando ou diminuindo seus efeitos, o que pode ser prejudicial à saúde. Por exemplo, suplementos de vitamina K podem interferir na ação de anticoagulantes, como a varfarina, aumentando o risco de coágulos sanguíneos. Outro exemplo é a interação entre suplementos de cálcio e medicamentos para o coração, como betabloqueadores e diuréticos, que podem causar alterações nos níveis de cálcio sanguíneo e afetar a função cardíaca. 

Efeitos colaterais e reações adversas 

O uso de suplementos alimentares pode causar efeitos colaterais e reações adversas em algumas pessoas, especialmente quando consumidos em quantidades elevadas ou de forma inadequada. Esses efeitos variam de acordo com o tipo de suplemento e a susceptibilidade individual. Alguns exemplos incluem distúrbios gastrointestinais causados pelo consumo excessivo de vitaminas lipossolúveis, como vitamina A, D, E e K, ou reações alérgicas a ingredientes específicos presentes em suplementos proteicos ou herbais.  

A importância de adquirir suplementos de fontes confiáveis 

Para garantir a qualidade e a eficácia dos suplementos, é fundamental adquiri-los de fabricantes e fornecedores confiáveis e reconhecidos. Verifique se os produtos possuem selos de qualidade e certificações de órgãos reguladores, como a Anvisa, que garantam que os suplementos atendam aos padrões de qualidade e segurança estabelecidos. Além disso, evite comprar suplementos de fontes desconhecidas, como sites de leilão ou vendedores não autorizados. 

Seguir as orientações de uso e dosagem recomendadas 

Ao utilizar suplementos alimentares, siga sempre as recomendações de dosagem fornecidas pelo fabricante ou pelo profissional de saúde que o orientou. Evite exceder a dose recomendada, pois isso pode aumentar o risco de efeitos colaterais e toxicidade. 

Acompanhamento médico e nutricional para avaliar a necessidade e eficácia dos suplementos 

O uso de suplementos alimentares deve ser sempre orientado e acompanhado por um profissional de saúde qualificado, como médico ou nutricionista. Esses profissionais poderão avaliar suas necessidades nutricionais e recomendar os suplementos mais adequados para você, levando em consideração seu histórico médico, condições de saúde e objetivos específicos. Além disso, o acompanhamento regular permitirá que o profissional monitore a eficácia dos suplementos e faça ajustes conforme necessário, garantindo que você obtenha os melhores resultados possíveis. (Com informações do site Médico24hs)  

 

Estudo mostra o que já existe de evidência científica sobre a creatina 

Literatura mostra não haver efeito negativo da suplementação de creatina sobre a pressão arterial  (Reprodução)

Pesquisadores brasileiros fazem parte de um grupo de cientistas que analisou dezenas de estudos sobre a creatina em todo o mundo para investigar o que é verdade e o que é mito a respeito dela. O suplemento é amplamente utilizado para melhorar o desempenho em atividades físicas. O estudo, publicado em artigo no Journal of the International Society of Sports Nutrition, reúne evidências científicas de que a suplementação em doses indicadas favorece a atividade física, não causa câncer, não compromete os rins nem provoca câimbras, calvície ou hipertensão. Ao mesmo tempo, os pesquisadores apontam aspectos que necessitam de mais estudos, como o efeito terapêutico da creatina e seu uso durante a gestação. 

“A creatina é um composto produzido no nosso próprio organismo, em particular nos rins e fígado, a partir de três aminoácidos, a arginina, a glicina e a metionina”, explicou ao Jornal da USP Hamilton Roschel, professor da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE), membro do Centro de Medicina do Estilo de Vida (CMEV) e do Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição da USP, um dos autores do artigo. “Ela também pode ser consumida em alimentos, em particular em carnes vermelhas ou então em suplementos produzidos comercialmente.” 

“Por ser armazenada principalmente nos músculos e facilitar a produção de energia de maneira rápida, a suplementação de creatina tem sido amplamente usada como recurso para aumentar a capacidade de se exercitar, o que sugere potencial não apenas para o desempenho físico-esportivo, mas também terapêutico”, afirma Roschel. “A creatina participa dos processos de produção de energia em outros tecidos e, assim, seu efeito tem sido estudado em outros contextos ao longo das últimas décadas, como, por exemplo, seu efeito na saúde óssea e na cognição, entre outros.” 

“Este trabalho é uma revisão narrativa, ou seja, vários pesquisadores que estudam a creatina ao redor do mundo se reuniram e revisaram os principais temas relacionados ao suplemento. Alguns não são científicos de fato, apenas, ‘fake news’, desinformação, e o objetivo era desmistificar essas falácias”, diz o professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) Bruno Gualano, que também integra o CMEV e o Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição da USP.  

O estudo também confirmou evidências já existentes, como a de que a suplementação, de fato, pode melhorar o desempenho físico esportivo, em especial nas atividades de altíssima intensidade, feitas em modalidades coletivas, entre elas futebol, basquete e vôlei. 

Segurança 

Segundo Gualano, os pesquisadores concentraram-se na checagem de 14 afirmações sobre a creatina, divididas em três grupos. “Há fatos confirmados, outros desmentidos e uma categoria que exige mais estudos, como os benefícios terapêuticos”, comenta. “Entre os que foram confirmados, por exemplo, está a questão do desempenho, se você tomar, cinco, sete dias depois, pode melhorar em atividades específicas, e que o suplemento pode ser usado por idosos e adolescentes eventualmente, não tem risco para essa população.” 

Roschel observa que além do artigo de revisão, foram elaborados mais dois textos reunindo as principais questões sobre o tema. “Talvez as dúvidas mais comuns acerca do uso da creatina fiquem em torno da sua segurança”, diz. “Enquanto as perguntas relacionadas ao sistema renal foram abordadas no primeiro texto, a alegação de que ela poderia estar ligada ao desenvolvimento de câncer é discutida no segundo.” 

“O trabalho desmistifica essa informação ao apontar que não há evidências de que doses típicas de creatina aumentem o risco de câncer, seja primário ou metástase. Também há evidências, ainda insuficientes, de que a creatina possa auxiliar na proteção ou recuperação do comprometimento muscular induzido pelo câncer ou tratamento associado. De qualquer forma, é recomendado a limitação do consumo de produtos cárneos processados e ultraprocessados ou submetidos à cocção intensa, churrasco, por exemplo.” 

Efeitos 

De acordo com Roschel, outra questão recorrente é sobre um possível efeito da creatina sobre a pressão arterial. “Uma vez que se trata de uma substância que causa retenção de fluido intracelular, há uma preocupação infundada de que isso poderia afetar tanto a função renal quanto a pressão arterial”, relata. “A literatura mostra não haver efeito negativo da suplementação de creatina sobre a pressão arterial, seja em jovens saudáveis ou em populações clínicas. Não há, contudo, estudos conduzidos com pacientes hipertensos de base, o que limita a extrapolação dos achados para essa população.” 

“Uma terceira pergunta muito comum talvez seja sobre a tolerância da suplementação durante a gestação. Estudos pré-clínicos em modelo animal mostraram que ninhadas expostas à creatina e seguidas até a idade adulta não reportaram nenhum impacto negativo, tanto na mãe quanto no feto”, descreve Roschel.  “Apesar disso, ainda não há evidências diretas a partir de estudos clínicos bem controlados e desenhados com seres humanos para investigar a segurança e os efeitos do suplemento nesses casos.” 

Gualano acrescenta que o artigo apresenta desinformações que circulavam nas redes sociais e os pesquisadores trouxeram evidências para mostrar que não faziam sentido, do ponto de vista científico. “Alguns mitos que nós desmistificamos, por exemplo, é que a creatina pode prejudicar a saúde”, ressalta. “Existe na literatura uma evidência muito grande de que o suplemento é seguro, tanto na função renal, quanto para a saúde hepática, que não causa câimbras, nem calvície, ou inflama ou causa hipertensão arterial.” 

“Também há fatos que ainda não têm respaldo científico, ficam mais ou menos numa zona cinza, ou seja, existe alguma evidência que a suplementação poderia funcionar em determinadas condições, mas não há evidências clínicas suficientes para bater o martelo”, salienta Gualano. “Por exemplo, o uso na reabilitação de pessoas imobilizadas, que passam por cirurgia. Existe uma lógica por trás disso, a creatina poderia aumentar força, recuperar massa muscular e melhorar o desempenho, mas há poucos estudos clínicos que aprovem o uso nessas condições.” (Com informações Jornal da USP) 

 

 

 

 

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