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Paixão por colecionar 

Desde itens comuns para colecionar, como selos, até imagens de santos, vale tudo para quem se dedica ao hobby de coligir objetos que contam histórias (Alfredo Risk)

Por Adalberto Luque 

O influencer e colunista Amir Calil Dib, que escreve diariamente neste Tribuna Ribeirão, não é daqueles que se dedica a somente uma coleção. Tem várias. Desde abadás/camisetas de festas, bonés e cartões de visita, passando por tapetes persas, pratarias, borrões (pratos ingleses de pelo menos 150 anos) e canecas (algumas das quais tocam música), até chegar a itens como uma estátua que data o ano de 1758; a mesa de baralho da rainha do café, dona Iria Junqueira; a cômoda que guardou o enxoval do empresário Adolfo Serra, que dá nome à rua no Alto da Boa Vista, zona sul da cidade e peças da Igreja Santo Antônio dos Pobres. 

Mas uma de suas coleções mais inusitadas é a de imagens de santo. “Sou católico e apaixonado por imagens. Recebo graças 24 horas por dia, pois sou muito feliz e abençoado. Tenho uma família maravilhosa – pai que viveu até os 102 anos, mãe com saúde com 91 anos, irmãs e sobrinhos maravilhosos. Tios são como meus pais e primos são como irmãos. Tenho amigos de verdade, um emprego que adoro e um teto para morar. O que preciso mais? Só tenho que agradecer”, explica Amir. 

Em seu acervo estão mais de 150 imagens de santos. Ele não tem hábito de catalogar. “Muitos nem sei o nome (risos)”. 

 O influencer e colunista gosta de ficar admirando as imagens. “Comprei muitas peças sacras da capela da fazenda da família Lira, os avós da linda Tereza Color. Até o Santinho da primeira comunhão dela guardo como um tesouro”, revela. 

Entre os que mais gosta estão santos talhados em madeira no século XIX. Os que tem maior afinidade são as imagens de São Francisco de Assis, Santo Antônio, Santa Rita e Nossa Senhora da Conceição. 

Uma de suas primeiras coleções foram carrinhos pequenos, que colecionava desde criança. Mas Amir vive novos tempos, que define como fase do desapego. Neste ano já doou 420 camisetas/abadás de festas e 180 bonés. Ele até pensou em fazer uma exposição antes de doar. “Mas ninguém comprou a ideia. Então doei para diversas instituições filantrópicas.” 

Tudo para a caçamba 

Sem descendentes, uma das preocupações em relação às suas coleções é dar trabalho às irmãs para vender ou doar, em caso de falecimento. “Por isso não tenho adquirido mais peças. Mas quando o Museu do Café ficar pronto, vou doar um bom acervo”, promete. 

 Apesar de seu desapego às coleções, Amir tem em seu escritório quase 100 troféus e isso já rendeu até o comentário da irmã mais velha. “Ela fala sempre: ‘quando você morrer, no outro dia vai tudo para a caçamba’”, diverte-se. 

Times de futebol pelo mundo 

Jornalista e baterista da banda Astrônico, Hugo Luque tem mais de 100 camisas de times de futebol do mundo todo, algumas raridades, como a do Kaiser Chiefs da África do Sul (Alfredo Risk)

Jornalista e baterista da banda Astrônico, Hugo Luque coleciona camisas de times de futebol. “Tenho mais de 100, cerca de 30 delas são do São Paulo”, revela.  

Tudo começou ainda na infância. Quando ganhava as camisas do São Paulo de presente, usava quase todos os dias. “Sempre fui muito detalhista, então reparar nas diferenças dos uniformes de um ano para o outro era uma diversão.” 

Uma camisa do Arsenal da Inglaterra despertou o interesse por camisas de outros times e países. Mas, na sua opinião, foi algo que ocorreu normalmente. “Acho que não decidi me tornar um colecionador, apenas aconteceu. Desde criança, gostava de colecionar. Tenho coleção de CDs de bandas que eu gosto, de álbuns de Copa do Mundo… quando me dei conta, já tinha dezenas de camisas, entre originais e de camelô, e quando passei a trabalhar, comecei a comprar uma ou até duas por mês. É minha diversão até hoje”, explica o baterista da Astrônico. 

Entre os modelos mais inusitados, o jornalista cita uma do Kaiser Chiefs da África do Sul (temporada 1998/99), Palestino do Chile (2020), Estrela Vermelha da Sérvia (1995), Cardiff City do País de Gales (1992), uma retrô do Independiente da Argentina, uma réplica da camisa dos anos 1930 do argentino Boca Juniors, Chacarita Juniors (também da Argentina) e uma do Venezia da Itália.  

Frequentador eventual da Rua Javari, na capital, Hugo também tem algumas do Juventus, dono do estádio. Escolher a preferida é tarefa difícil, mas ele tem as suas. “A do milésimo jogo do Rogério Ceni pelo São Paulo, a camisa 2 do Arsenal de 1989, a camisa 2 do São Paulo de 1986 (do Careca), a camisa 1 do São Paulo de 2005, porque é a camisa mais antiga que me lembro de ganhar, e a camisa 1 do Uruguai, da Copa do Mundo de 2010, com o nome do Forlán”. acrescenta. 

Regra 

São-paulino de coração, sua única regra na coleção é nunca ter camisa de rivais e, de preferência, nem de outros times grandes nacionais. “Fora o São Paulo, só tenho camisas brasileiras dos times de Ribeirão Preto, do Sampaio Corrêa e do Juventus-SP”, garante. 

Comprando normalmente pela internet, frequenta vários sites especializados. Mas já comprou de camelô, usadas na internet, de amigos e até em viagens a países do exterior. Usou todas, mas admite que algumas se arrependeu de não deixar pegar pó no armário. “Como a do Arsenal (2005/2006) grená. É uma das minhas favoritas, tem o nome do Henry atrás, mas de tanto lavar, começou a descolar o número”, lamenta. 

Filatelia 

O jornalista e filatelista Márcio Javaroni que tem milhões de selos e promove encontros anuais em Ribeirão Preto, dá dicas para quem quer começar a colecionar (Alfredo Risk)

Um envelope com dois selos que ganhou de uma dentista despertou no jornalista Márcio Javaroni o interesse pela filatelia. “Sempre gostei de coleções, antes disso já guardava botões, moedas. Mas os selos acabaram, ao longo do tempo, se tornando a maior paixão”, conta Javaroni. 

Depois de 40 anos colecionando, tornou-se um especialista no assunto e promove encontros de filatelistas. Entre seus selos preferidos, estão os de Aerofilatelia (envelopes circulados por via aérea) e a história postal de Ribeirão Preto. Mas o problema começa quando questionado sobre quantos selos tem aproximadamente. “Não faço a mínima ideia. Milhões…” 

Defendendo a tese de que todo colecionador é compulsivo, Javaroni mantém outras coleções paralelas aos selos. “Coleciono também postais, jogos de botão, camisas e itens relacionados ao Botafogo”, acrescenta.  

Com tanta experiência em coleções e, em especial, em filatelia, o jornalista tem conselhos úteis para quem quiser começar sua coleção. “A dica é pensar, sempre, nos selos como um passatempo e forma de crescer cultural. Busque sempre ampliar seus conhecimentos sobre a filatelia, pesquisando e conversando com colecionadores mais experientes, assim como participando de eventos”, conclui. 

Encontro Filatélico 

Desde 2010, Javaroni organiza o Encontro Filatélico de Ribeirão Preto. O primeiro foi realizado durante a Expofinter – Exposição Filatélica do Interior de São Paulo. “Foi o início de tudo, bem modesto. Naquela oportunidade só tivemos colecionadores de selos”, lembra Javaroni. “A numismática só ganhou espaço em 2014, na quinta edição do evento, que passou a se chamar Encontro Filatélico e Numismático de Ribeirão Preto. Hoje, além de selos, moedas e cédulas, temos colecionadores de postais, miniaturas, cartões telefônicos, antiguidades e figurinhas, entre outros. É um grande encontro do colecionismo”, completa. 

 Em 2024 o encontro ocorreu entre os dias 15 e 17 de março, no Hotel Dan Inn, na Vila Tibério, zona Oeste de Ribeirão Preto. Teve diversas atrações, colecionadores de vários temas, com espaço para troca, venda e avaliação de itens colecionáveis.  

Durante o encontro, que faz parte do calendário oficial de Ribeirão Preto, foram lançados três selos: em homenagem à Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, ao Faixa Branca Clube do Carro Antigo e um comemorativo ao centenário da inauguração do antigo estádio do Botafogo, Luiz Pereira.  

Nunca é tarde para começar uma coleção. Mesmo já tendo ocorrido a edição de 2024 do encontro de filatelistas, Javaroni não deixará de ajudar a quem o procurar. E temas não faltam. Há quem colecione maços de cigarro, gibis e revistas, discos, CDs, tampinhas de garrafa. Tudo é possível, desde que haja organização e dedicação. 

 

Colecionador ou acumulador? Entenda a diferença 

Ana Lúcia Jannuzzi, psicóloga e personal organizer, lista as diferenças entre colecionador e acumulador  (Site Total Organização/Divulgação)

A psicóloga e personal organizer Anna Lúcia Jannuzzi tem uma fórmula para definir se a pessoa é colecionadora ou acumuladora. Segundo ela, a primeira questão a se levar em conta é que os colecionadores cuidam, organizam e exibem sua coleção com orgulho. “Enquanto o acumulador mantém tudo fora de ordem e, na maioria das vezes, nem sabe o que tem”, aduz.  

Em um artigo publicado em seu site Total Organização, ela lista algumas diferenças:  

– Colecionadores compram, restauram, negociam, mantém na coleção ou vendem seus itens. O acumulador simplesmente compra e larga; 

– Colecionadores são sempre metódicos e organizados. Acumuladores se perdem em meio a tudo o que tem; 

– O colecionador tem coleções específicas. Para o acumulador, qualquer coisa é válida; 

– Nas coleções há um certo saudosismo, afeto. Já o acumulador sente o medo da falta; 

– O colecionador tem sua rede de contatos para conseguir seus itens de coleção. Já o acumulador se isola em seu universo e fica fechado nele. 

 

 

 

 

 

 

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