Tribuna Ribeirão
Cultura

Série ‘Blindspotting’ usa dança e comédia para falar do sistema prisional dos EUA

Por Mariane Morisawa, especial para o Estado

No filme Ponto Cego (2018), os roteiristas e amigos Daveed Diggs (de Hamilton) e Rafael Casal usaram o formato da comédia de amigos para falar de gentrificação da região da Bay Area (arredores de São Francisco, EUA), sistema judicial criminal, racismo. Eles também incluíram diálogos que eram poesia falada. Agora, na série Blindspotting, que estreia em breve na Starzplay, os dois adicionaram mais um elemento: a dança.

A série foca em Ashley (Jasmine Cephas Jones, a Peggy de Hamilton), a namorada de Miles (Casal) e mãe de seu filho. Ela precisa cuidar sozinha do menino, agora que Miles foi condenado a cinco anos de prisão, e se muda para a casa da sogra (Helen Hunt).

“A gente sempre falava que queria mais da Jasmine. Quando nos convidaram, achamos que não tinha como fazer um derivado, mas aí pensamos que podia ser algo sobre a Ashley”, contou Casal numa conferência durante o festival South by Southwest, realizado virtualmente este ano. Segundo Diggs, a série foi feita para demonstrar todos os talentos da atriz. “As pessoas não sabem do que ela é capaz. A gente tentou achar alguma coisa que ela não conseguisse fazer, mas até agora não tivemos sucesso. Continuamos tentando, o que nos leva a fazer essas escolhas malucas.”

Por exemplo, para mostrar como o complexo industrial prisional alcança todos fora da prisão também, Casal e Diggs resolveram pedir sequências para os dançarinos e coreógrafos Lil Buck e Jon Boogz. “É como um coro de movimento que pode ser a representação visual disso na série”, contou Casal. Segundo Lil Buck, famoso por sua versão de street dance de A Morte do Cisne, as cenas são “como uma extensão emocional”.

Numa cena apresentada durante o evento, Lil Buck e Jon Boogz representam a amizade desde a infância de Collin (Diggs) e Miles (Rafael Casal). “O tipo de dança que eu faço, o popping, é da Bay Area. Queria que a estrutura vernacular da dança da região estivesse presente em toda a série”, explicou Boogz. “Foi muita sorte o meu estilo ser de Oakland, porque toda vez que virem meu movimento, a Bay Area está lá, porque ela faz parte do meu DNA como street dancer e artista.”

Para Boogz, isso oferece uma nova camada de narrativa e serve para ampliar a visão sobre a dança. “Podemos mostrar que nossa dança não tem fronteiras nas histórias e narrativas que pode contar. Não podem colocar nossa arte num escaninho. Podemos ir a qualquer lugar, contar qualquer história. Estou empolgado porque acho que já não era sem tempo.”

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