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28 de março de 2024 | 16:13
Jornal Tribuna Ribeirão
FOTO: ALFREDO RISK
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Coisas do café

Jovem e morando no ex­terior em cidades praianas da Austrália. O que faria uma pessoa a querer mudar essa vida, desejada por muitos? Para Rafael Ferraz de Souza, de 29 anos, uma palavra com quatro letras: café.

Mas um detalhe interessan­te, Rafael detestava o café, uma das bebidas mais consumidas no Brasil. Um gole, a contra­gosto, em um café especial mudou tudo. Hoje, é um espe­cialista e estudioso no assunto. Vive e respira café.

“Não é que eu não gostava. Eu detestava café”, brinca. Ape­sar disso, esse paulistano que veio para Ribeirão Preto quan­do tinha dois anos de idade porque a família queria melhor qualidade de vida, de uma for­ma indireta sempre teve ligação com o café. O pai foi executivo de uma grande empresa de má­quinas de café.

Posteriormente, a família montou uma representação da mesma fábrica em Ribeirão Preto e administrou o negócio por anos. “Quem olha de lon­ge não vê as dificuldades que é morar fora do país. Apesar da minha família ter uma condição razoável, eu que me sustentava. Trabalhava muito. Um dia bate a saudade e você pensa, por que não voltar e trabalhar no negócio da famí­lia”. Rafael voltou.

Um café que mudou a vida
O negócio consistia em vender, alugar e dar assistência técnica das máquinas. “Mas teve um período que a crise veio forte. Foi no período pós­-impeachment (da presidente Dilma). O dólar disparou e como nosso produto era im­portado foi começando a ficar inviável. Nossas projeções não eram animadoras”.

A família estudava outro ramo de atividade. Um pro­dutor de café sugeriu a Ra­fael que ele trabalhasse com o produto. “Ele me fez uma boa proposta. Me fornecia o produto. Eu colocaria minha marca e apresentaria no mer­cado. Era consignação e tinha prazo. O negócio era bom, e eu estava animado”, diz.

O jovem conta que o pro­dutor para convencê-lo, ainda mais, pegou uma mostra do café e coou o produto ali, para que ambos bebessem. “Eu não queria. Realmente não gosta­va, mas para não desapontar, resolvi aceitar. Vi que ele não colocou açúcar e eu segui o que ele fez. Foi ai que mudou tudo na minha vida. Eu me apaixo­nei pelo café”, lembra.

Foi amor ao primeiro gole. O negócio com o pro­dutor não decolou por uma série de fatores, mas Rafael convenceu a família a investir em uma cafeteria diferente. “Eu queria trabalhar com ca­fés especiais. Não adiantava uma cafeteria comum”.

Do primeiro gole, ao pro­jeto, financiamento e abertu­ra da cafeteria foram seis me­ses. Isso aconteceu em 2015. A cafeteria recebeu o sobre­nome da avó paterna, Grassy, de origem italiana.
No início, Rafael con­ta que entrava um ou outro cliente por dia. “Mas fomos mostrando e educando nos­sos clientes. Eu os chamava para torrar o café (na pró­pria cafeteria) moer e coar. O cliente participava de todo o processo. A gente queria apresentar o conceito e não só vender a xícara de café. E foi dando certo”.

Da plantação ao coador
Rafael é hoje um espe­cialista quando o assunto é café. Fez dezenas de cursos como barista e mestre tor­rador, alguns internacionais. Conta que passou dias em plantações de café: plantio, colheita, fermentação, seca­gem, prova, torra, moagem e, claro, preparo. “Eu procu­ro entender todo o proces­so, ver a diferença que pode provocar no resultado final, testar, aprender”.

Muitas dessas questões são alvos de conversas cons­tantes entre clientes. “Hoje é normal, faz parte da nossa rotina conversar sobre o café. Os clientes analisam e co­mentam. Pedem opinião”. ]

Ele diz que, assim como que acontece atualmen­te com as cervejarias, em que muitas fábricas artesa­nais ganharam o mercado, o mesmo processo deverá acontecer com o café. “Hoje muitas pessoas ao invés de comprar um fardo de cerve­ja, preferem comprar uma ou duas cervejas artesanais. Estão buscando novidades e se interessando, apesar do valor. Elas entenderam isso. O mesmo vai acontecer com o café. Vivemos numa cidade culturalmente com laços for­tes com o café. Aqui já foi a Terra do Café, temos o Mu­seu do Café, que infelizmente está abandonado, mas temos história. O hino da cidade fala isso. Temos que aprovei­tar essa história”, finaliza.

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