Tribuna Ribeirão
Artigos

Um convite à reflexão

Maurilio Biagi Filho *

O artigo do engenheiro agrônomo e pesquisador Evaristo de Miranda, publicado abaixo, traz uma provocação necessária. O tema é sensível, complexo e exige mais reflexão.Vivemos um tempo em que o debate sobre segurança alimentar se mistura a questões econômicas, sociais, ambientais e até morais.

O Brasil é, reconhecidamente, um dos maiores produtores de alimentos do mundo e tem capacidade para alimentar várias vezes sua própria população. Ainda assim, convivemos com a fome, a má nutrição e o desperdício de recurso público.

Às vésperas da COP 30, que colocará novamente o Brasil no centro das discussões globais sobre sustentabilidade e clima, é oportuno refletir sobre o papel estratégico do nosso agronegócio. Produzir alimentos em escala, com responsabilidade ambiental e inclusão social, talvez seja o maior desafio,e também a maior contribuição, que o país pode oferecer ao planeta.

Sem fazer juízo de valor, convido à leitura atenta e à reflexão.

O artigo provoca, instiga e, sobretudo, nos lembra que o debate sobre comida é, antes de tudo, um debate sobre humanidade. Falta comida ou vergonha?

Evaristo de Miranda **

Neste planeta foram necessários uns 6.000 anos para a população urbana ultrapassar numericamente a rural. Foi em 2007, há 18 anos.

Quem vem para a cidade deixa de produzir batatas, hortaliças, frutas e de criar porcos e galinhas. A ex-família rural amplia e muda seu padrão alimentar na cidade.

Mais urbanização, mais demanda por comida e menos gente para produzir. É assim desde o século passado.

Caminho sem volta: o crescimento urbano prossegue e declina a população rural. Cabe ao mundo rural alimentar uma parcela cada vez maior da humanidade, exigente e urbana.

Em 2023, a população da Índia ultrapassou a da China e cresce.

Os dois países reúnem 3 bilhões de pessoas. Nos próximos 20 anos, nove países trarão um acréscimo populacional de mais 2 bilhões de pessoas, mesmo se em mais de 150 países as populações declinarão. O mundo urbano precisa de alimentos diversificados, de qualidade, a baixo preço e, se possível, entregues e disponíveis em supermercados próximos às residências.

Desde a Segunda Grande Guerra, a produção agropecuária teve um crescimento superior ao da população mundial, graças à revolução verde e à incorporação de inovações, a industrialização da agricultura e das cadeias de transformação agroalimentares. O preço dos alimentos caiu de forma constante. Isso foi particularmente verdadeiro no Brasil.

A primeira ruptura global desse processo ocorreu em 2019, devido a pandemia da covid-19. Esse vírus surgiu e saiu da China.

Causou a morte de 15 milhões de pessoas. Reverteu a tendência de aumento constante na expectativa de vida ao nascer e de vida saudável.O “vírus chinês” eliminou quase uma década de progresso na expectativa de vida em dois anos.

A fome mundial cresceu a um nível superior ao existente antes da pandemia.

Passada a pandemia, a produção de alimentos voltou a crescer. Em 16 de outubro comemorou-se o Dia Mundial da Alimentação. Ele foi instituído em 1981, na 20ª Conferência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), criada em 16 de outubro de 1945.

No Brasil, não tem insegurança ou insuficiência de produção de alimentos para atender a demanda interna, como ocorre com China, Japão, EUA, Coreia do Sul, países árabes e em quase toda a África. É exportador e não importador de alimentos, como foi até a década de 1970. Sua produção agropecuária é suficiente para alimentar mais de seis vezes a população.

Não faltam alimentos, com qualidade, diversidade e a preços competitivos. Faltam sim, para muitos brasileiros, condições de acesso financeiro a todos eles, dada sua situação econômica e social. Desafio complexo a ser estudado e debatido com argumentos e dados e não só com convicções ideológicas ou simplismos. 

É difícil saber quantos brasileiros não se alimentam adequadamente por razões econômicas.

Para o IBGE, 55% dos brasileiros apresentam excesso de peso (IMC > 25) e 20% são obesos. Diante da crescente laborfobia na população ativa, qual o efeito e a necessidade real, e não de uso político, do assistencialismo, como no programa Bolsa Família, para combater a fome?

O Banco Central demonstrou: a cada mês, milhões de beneficiários do Bolsa Família enviam bilhões de reais às bets via Pix. E 70% deles são chefes de família. O recurso dos programas sociais acaba em casas de apostas e não nos supermercados. O dinheiro das “políticas sociais e afirmativas” vai também a outros ralos. Quer apostar? Ou votar?



* Empresário

** Engenheiro agrônomo e pesquisador

Postagens relacionadas

Emoção (11): Relações Interpessoais

William Teodoro

Da peste negra ao coronavírus: a trajetória humana

Redação 1

Sete de Setembro: celebrar ou questionar?

Otávio

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade. Aceitar Política de Privacidade

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com