Tribuna Ribeirão
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A despolitização do povo abre o caminho para o fascismo! 

José Eugenio Kaça *  
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A despolitização de um povo cria o costume alienante, que tem como resultado cruel o consumismo, e isso implica diretamente na formação da cidadania. O povo brasileiro vive há muito tempo à espera de uma vida melhor, e essa vida melhor é vislumbrada através do poder de compra. Quando algum governo resolve implantar políticas que vão ao encontro das necessidades do povo pobre, o faz a conta-gotas, entendendo que o pobre acostumado a viver na penúria não iria saber usufruir dos benefícios de ter uma vida plena com todos os direitos que a  cidadania proporciona.  
 
E imaginar que os pobres vivam a plena cidadania é algo que prejudica o sistema, e as elites que dominam o poder, não permitem que uma mudança radical mude o patamar de vida dos pobres, isso seria o caos, pois o sistema foi projetado meticulosamente para que o abismo social seja intransponível; afinal, na visão deles o pobre está acostumado a sofrer nas periferias pobres com falta de infraestrutura, de uma educação pública com qualidade, saúde precária, moradia, e serem transportados como gado nos meios de transportes coletivos que não atendem suas necessidades. 
 
A democracia é um sistema de governo muito bonito na teoria, pois induz o povo a acreditar que o poder é exercido por ele, mas acontece que para exercer este poder tem que confiar em representantes que são eleitos, e exercerão o poder em nome do povo, mas depois que são eleitos vão cuidar das suas vidas, e procuram manter distância dos seus eleitores, só se aproximando novamente quando chegam novas eleições. E esse comportamento é conhecido há décadas, mas não sai da moda. A fisionomia da maioria dos políticos muda radicalmente logo após serem eleitos. Aquele olhar de solidariedade que aparentava nutrir pelo povo, se transforma em um olhar de desprezo, que perdurará durante quase todo o seu mandato, e assim caminha a nossa política. 
 
A malandragem é naturalizada durante as campanhas eleitorais, e usada como ferramenta de persuasão para engabelar a população; é o vale-tudo. Os candidatos incorporam personagens, que abandonam logo após as vitórias. Há histórias contadas no cotidianas, que mostram as proezas destas personagens, que podem tranquilamente concorrer ao Oscar de melhor ator, com grandes chances de levar o troféu. Ribeirão Preto tevê uma destas figuras que ganhou repercussão nacional.  
 
Nos anos 1970, o corte de cana arregimentava um exercito de trabalhadores, que não tinham qualquer direito trabalhista, e eram transportados nas carrocerias abertas de caminhões, amontoados feito gado, levavam um podão, que era sua ferramenta de trabalho, e uma marmita, que às vezes só continham o arroz e feijão,  e comiam esta comida fria, sentados no meio do canavial: e passaram a ser conhecidos como boias-frias. 
 
Haviam locais nas periferias pobres, onde os gatos contratavam os trabalhadores (gatos eram atravessadores de mão de obra para os usineiros). Nestes pontos os caminhões saiam de madrugada e só voltavam ao anoitecer. Como havia a queima dos canaviais, os trabalhadores chegavam nos pontos  cobertos de fuligem, pareciam saídos de um filme de terror. E este personagem da política que merecia o Oscar, fazia coisas mirabolantes para conseguir o voto dessa gente sofrida e humilhada. Ele chegava nestes pontos, com seus assessores, vestindo roupas de trabalhador comum.   
 
Quando os caminhões chegavam, ele abraçava os trabalhadores, sem se importar com a fuligem que cobriam seus corpos, tomava cachaça com os trabalhadores, e os chamava de “meus irmãozinhos boias-frias”, e essa atitude de aparente humildade trazia milhares de voto. Entretanto, está aparente solidariedade, se desfazia ao retornar a sua vida cotidiana, regada de conforto e opulência, e estes trabalhadores eram esquecidos logo após a confirmação de sua vitória. 
 
Afinal, a democracia não é o regime do povo para o povo? Enquanto o povo for iludido, enganado e manipulado pelo poder; a democracia tende a ser uma democracia relativa, e essa democracia relativa leva o povo a despolitização, e abre o caminho para o fascismo! 
 
* Pedagogo, líder comunitário e ex-conselheiro da Educação 

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