Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Um antigo mapa datado de 1898, do acervo do Arquivo Histórico e Público Municipal, denomina Praça Sete de Setembro o quarteirão em chão batido entre as ruas Floriano Peixoto, Sete de Setembro, Lafaiete e Florêncio de Abreu. Localizava-se nas imediações do Cemitério Velho, este abandonado depois que a cidade foi avançando e exigiu sua mudança para a Avenida da Saudade, onde se encontra até hoje.
Não encontrei registros de quando a praça passou a se chamar Aureliano de Gusmão, em homenagem ao último intendente da cidade, cargo que passou a ser chamado de Prefeito, no ano de 1902.
No mesmo Arquivo, encontra-se documento referente à denominação, um requerimento de moradores da redondeza, datado de 1918, onde se solicita seja a Praça Dr. Aureliano de Gusmão ajardinada, o que só ocorreria no governo do Prefeito João Rodrigues Guião ( 1920 a 1926 ), quando ela passou a receber melhoramentos e a tomar a forma que apresenta hoje.
Em 1939, pelo Ato de n. 75, nossa Câmara Municipal ratificou o nome de Aureliano de Gusmão para a praça, denominação que permaneceu até 1972, quando o Prefeito Antônio Duarte Nogueira, através da Lei Municipal n. 2.590 restabeleceu o nome original de Praça Sete de Setembro.
Manoel Aureliano de Gusmão nasceu em Alagoas, no ano de 1857, graduando-se pela Faculdade de Direito do Recife. Depois de exercer cargos públicos no nordeste, foi, no ano de 1892, nomeado primeiro Juiz de Direito da recém instalada Comarca de Ribeirão Preto, onde se notabilizou pela sua cultura jurídica, seu bom senso de julgador e sua vida ilibada, o que o tornou muito respeitado pela comunidade. Foi eleito vereador, vice-presidente da Câmara e, em 1902 Intendente Municipal, cargo que exerceu durante esse ano. Ao término de seu mandato, solicitou à Câmara que mudasse a denominação de Intendente para Prefeito, o que foi feito.
Hoje, a Praça Sete de Setembro é um oásis para os moradores do centro, com suas arvores centenárias fornecendo sombra para amainar o calorão da cidade, além de abrigar uma série de eventos culturais e artísticos, como o Chorinho da 7, muito concorrido, brincadeiras para crianças, feira de adoção de animais, mostra de artesanato, atividades lúdicas para a população, todas enchendo a praça e proporcionando lazer à comunidade.
Seu coreto é o ponto alto, elegante, bem construído, servindo de local de apresentação de músicos das mais variadas vertentes. Quando sem atividade, enche-se com as brincadeiras dos meninos e meninas.
Um dos meus amigos mais queridos, meu confrade de Academia Ribeirãopretana de Letras, Carlos Roberto Ferriani é privilegiado morador do redor da praça. Cirurgião plástico, cantor, compositor e sobretudo poeta, tem nas folhagens da árvores, nas flores e no canto de seus pássaros inspiração para seus excelentes trabalhos.
Quando meus netos eram pequenos, frequentei-a muito aos domingos, levando-os em passeio do trenzinho, cheio de personagens infantis que acompanhavam o percurso, cantando as músicas do momento. A praça enchia-se de casais com seus filhos e netos e era decorada pelo vendedor de bexigas, chapéus, ventarolas, espetadas num grande suporte e pelo vendedor de pipoca e de algodão doce.
Era necessário repetir pelo menos duas vezes o trajeto, que acabava na sorveteria famosa da rua Floriano Peixoto, onde os netos – e nós também – nos refrescávamos, depois das várias tratativas relacionadas à compra dos brinquedos.
Aproveitávamos o domingo para também visitar a exposição de artistas plásticos, que combinavam suas obras com os canteiros da praça. Quadros os mais variados, esculturas modernas e clássicas, bordejavam as alamedas, enfeitando, com suas cores, o verde das plantas menores.
Várias vezes adquiri ali obras que ainda hoje enfeitam minha casa.
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e secretário-geral da Academia Ribeirãopretana de Letras