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As mulheres e sua luta secular

No dia 8 de março de 1857 as operárias de uma indústria têxtil de Nova Ior­que entraram em greve. Submetidas a jornadas diárias de 16 horas de trabalho, recebiam menos de um terço do salário masculino. Reivindicavam a redução da jornada para dez horas. A resposta dos patrões dava bem a medida do tratamen­to dedicado às mulheres: mandaram fechar as operárias na fábrica, onde um incêndio (Acidental? Criminoso?) levou cento e trinta delas a morte terrível.

É uma história tão tenebrosa que alguns pensam que não foi bem assim, mas na verdade o preconceito era desumano, tanto que, em 1910, a Confederação Internacional de Mulheres, em evento realizado na Dinamarca, decidiu, como homenagem àquelas operárias, declarar o Dia 8 de março como o “Dia Interna­cional da Mulher” e assumir o rosa como cor oficial do movimento, para lembrar a tonalidade rosa-avermelhada do fogo daquele martírio.

Não foi a primeira vez que o fogo participou de forma cruel na longa história de luta das mulheres por emancipação e equidade. Foi por meio dele que supli­ciavam as “bruxas” do passado. Até a queda do Império Romano “bruxo” era o nome que se dava para um participante de magia. Essas pessoas –na maioria, mulheres- eram respeitadas e temidas por seus conhecimentos, sendo indivíduos especiais. A partir da Idade Média passaram a ser perseguidas, sob acusação de “bruxaria”, todas as mulheres que ousassem pensar ou agir de modo diferente da cultura absolutamente machista e fanaticamente religiosa que imperava.

Na Inquisição, as bruxas eram assassinadas “em nome de Deus”. A escolha do fogo, como agente do suplício, tinha a explicação hipócrita das autoridades eclesiásticas da época de que “a Igreja não gosta de verter sangue”. Joana D’Arc foi apenas uma das milhares de martirizadas pelo fogo. Preconceitos e perseguições foram, ao longo dos anos, impedindo que a mulher assumisse seu mereci­do lugar na sociedade, como pessoa, com direitos e deveres iguais aos do homem. A luta da mulher pela equidade é uma das mais duras e penosas da história da humanidade e alguns marcos devem ser lembrados.

Em 1691, o Estado de Massachussetts permite o voto das mulheres, mas elimina-o em 1789. Em 1788 o filósofo e político Condorcet reclama para as mu­lheres o direito à educação, à participação na vida política e o acesso ao emprego. Em 1792, Mary Wollstpnecraft, pioneira do movimento feminista, publica um conjunto de reivindicações das mulheres. Em 1840, Lucrecia Mott lança as bases da “Equal Rights Association” pedindo direitos iguais para todos.

Em 1859 um movimento feminino em São Petersburgo passa a lutar pela emancipação da mulher russa. Em 1862 as mulheres passam a votar nas elei­ções municipais suecas. Em 1869 o território norte-americano de Wyoming deu o direito de voto às mulheres. Em 1870, na França e Suécia as mulheres passam a ter acesso aos estudos médicos. Em 1874 o Japão inaugura sua pri­meira escola normal para mulheres. Na América do Sul, o primeiro voto de mulher foi dado por Celina Guimarães Viana, em 1927, em Mossoró (RN), mas o voto feminino no Brasil só foi regulamentado em 1934.

Nunca consegui aceitar o preconceito de gênero, certamente por influên­cia de minha mãe, Cristina, que sempre viveu à frente de seu tempo. Depois, pelos exemplos e ensinamentos da Leila, que conheci na Faculdade de Medi­cina em uma época que “estudar medicina não era para mulheres”. Sua visão de eqüidade entre os gêneros certamente foi um dos fatores que me levaram a escolhê-la como companheira para toda a vida.

Muito do que restou de preconceito, que a cultura machista me legou, minha filha Cristine se encarregou de tirar. Por tudo isso sempre fui uma voz a se levantar à favor da luta das mulheres por seu lugar de direito. Deus me recompensou, ao me conceder duas netas, Luísa e Giovanna, que, certamen­te, continuarão a luta de sua bisavó, avós e mães. Para marcar essa benção concedeu-me que uma delas, Luísa, nascesse exatamente no dia 8 de março, o “DIA INTERNACIONAL DA MULHER”.

Apesar dos inegáveis avanços, conquistados através de séculos, a luta das mulheres ainda está longe de terminar. Assédio sexual, violência no lar, dificuldade em empregos, salários mais baixos que os dos homens, são coisas que ainda existem, em níveis variáveis, em diferentes países e em diferentes regiões. São problemas que atingem a mulher, mas que interessam a todos, já que dizem respeito à dignidade humana e a luta pela dignidade humana é dever de todos e de cada um.

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