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Cantor da noite, o vendedor de sonhos

A noite é a faculdade dos boêmios, como a Lua é o “sol da boemia”, já dizia o velho compositor Billy Blanco. Noite des­sas, assistindo a uma entrevista com o compositor e produtor musical Arnaldo Sacomani, que toda segunda-feira era jura­do no Programa do Ratinho – ele fazia o papel de jurado mal humorado e eu me divirtia –, percebi que a repórter poderia arrancar mais coisas dele, mas não tinha conhecimento do que é este profissional.

Lembro de que ela perguntou-lhe de manias dos cantores dentro de um estúdio, quando vão gravar a voz, e ele, que quase não ri, falou de um cantor que só grava no estúdio se for de cuecas. Ee ria e perguntava: “O que a cueca tem a ver com a voz?” Falou também de uma famosa cantora que, após consultar uma mãe de santo na Bahia, recebeu orientação de só gravar peladona.

Sacomani, mais uma vez, riu muito. Eu que conheço dezenas de estúdios Brasil afora fiquei pensando, como é que os profissionais lidam com aquele tremendo mulherão pelada no estúdio? Voltemos ao nosso cantor da noite, que traz uma luz em seu interior que nem se dá conta. É um ser humano da melhor qualidade, mas, também pudera, cursa a melhor faculdade do mundo, a “faculdade do amor”.

O músico da noite canta de tudo, principalmente o amor, Nesta semana recebi um vídeo do querido amigo José Orlan­do Pereira Lima, advogado, e ao abri-lo vi que foi gravado no aconchegante Bar Pitel. O cantor que mostrava sua arte era Pantanal. Foi com prazer que assisti àquele despretensioso vídeo, onde Pantanal agita um samba e convida a moça que lá trabalha pra sambar. E ela, sorrindo, encarou. Poxa, como eu gosto do Pantanal!

Que amigo Deus me deu, sempre que precisei dele se fez presente. Além disso, seu filho, Markin Pantanal, segue os passos do papai. Lembro-me de um show que fiz no Bar do Val. No palco estavam, Sudu Lisi na bateria, Hamilton do Pandeiro, Flavio Anchieta no baixo, meu filho Lucas Bueno no piano, na época com 22 anos, Júlio Cesar Fejuca, de 17 anos, com seu violão sete cordas e Markin Pantanal, com 16, estraçalhando no cavaquinho. Eu ali na frente todo orgulhoso cantando a obra de João Nogueira.

O show foi tão perfeito… Eu olhava admirado para aqueles quase meninos tocando seus instrumentos como veteranos, então danei a pensar: “se hoje tocam assim, daqui a dez anos como será?”

Perguntei ao cantor Antonio Alexandre qual a música que mais lhe pedem pra cantar na noite e ele falou três: “Flor de lis”, “Trem das onze” e “Naquela mesa”. Completou avisando que tem mais, mas estas são as campeãs. Algumas eu canto várias vezes, até porque o público se renova.

Já Pantanal respondeu que suas campeãs são “Te amo, Espanhola”, “Amigo é pra essas coisas” e “Naquela mesa”. Essa, tanto Antonio Alexandre quanto Pantanal, e eu também posso afirmar, invade a alma de quem canta como a de quem está ouvindo. Eles, assim como eu, já choraram juntos com quem pediu, eu muitas vezes mal conseguia chegar ao fim. Essa música é muito forte.

Meus amigos, cantores da noite, continuem nesta nobre missão de cantar o amor, povoar sonhos e que Deus proteja e abençoe suas gargantas. Já havia terminado de escrever esta crônica quando me chega a notícia que Arnaldo Sacomani se mandou, foi para o andar de cima. A música de qualidade perde seu defensor. Veja como são as coisas, um dia antes escrevi sobre ele, foi uma despedida.

Sexta conto mais.

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