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E-mail, Facebook, Zap, Instagram, Podcast e a Luzia

Na minha terra e no meu tempo tínhamos formas pecu­liares de comunicação e informação praticamente perfei­tas. Atuavam no curto, médio e longo prazo.

No longo prazo faziam sucesso as cartas, missivas e os cartões com letras bonitas de cartilha, desenhadas na frente dos envelopes.

Tudo pronto, subir a pé a ladeira até a agência dos Cor­reios, despertar do cochilo o sonolento funcionário, pas­sar a goma arábica com o pincel no selo e receber aquele carimbo redondo com tinta preta e um barulho seco.

No médio prazo tínhamos o pombo-correio, o rá­dio-amador, a maçã do amor e as cadeiras na calçada ao entardecer, onde muitas notícias chegavam a cada conviva e depois, levadas aos tios, primos, amigos, conhecidos e toda a comunidade.

No curto, curtíssimo, aliás, imediato prazo tínhamos a Luzia, era só comentar com ela, não dispensando aquela velha máxima que desconfio, nasceu em Minas.

Olha lá hein! Não vá contar a ninguém.

E a Luzia olhando de lado, fazendo cara de surpresa e espanto, respondia:

– Credo, Vixe. Já me viu por aí com a língua solta e pro­curando o que fazer? Minha boca é um túmulo.

Dito e feito. A notícia chegava bem na horinha, fazendo corar os criadores do e-mail, Zap, Twitter, Facebook, Ins­tagram, Podcast, e sei lá quantos outros mais virão.

O que assustava é que não só chegava ao interessado, bem como, ao mais longínquo rincão, viela, lugarejo ou currutela.

Festas de debutantes, bailes, colações de grau, Ré­veillons, Natais, Semanas Santas, Sufrágios Universais, casamentos, velórios, nascimentos, batizados e bodas de todas as jóias e metais.

A competência dela era tão grande que a notícia che­gava ao velório antes do defunto, surpreendia o vigário ainda de pijamas, o leiteiro sorrateiro flertando com a Dolores, a sinhazinha atrás do terço e da cortina, a cha­leira apitando na trempe e o lampião ainda fumegante ao amanhecer.

O nível de informação dela era tão completo que faria despencar o Google, sabia o nome de todos os enfermos, inclusive com os seus diagnósticos, os frequentadores da “Ponte dos Amores”, alcunha da zona do meretrício na cidade pois, para chegar até ela era necessário transpor uma “pinguela”, também sabia de cor e salteado os que possuíam “papagaios” nos bancos, com seus devidos valo­res e tudo o mais.

A Luzia enviava a mensagem, checava o recebimento e já estava ao lado do fogão com suas chamas altas e cre­pitantes, com aquela carinha de nada sei, solerte e jovial, jamais em tempo algum deixou queimar o feijão.

Minha vida antiga, sem celular, Facebook, Zap, E-mail, Instagram, Podcast, e Blog, repleta de sonhos, descober­tas, jabuticabas, serenatas, lagoas, cachoeiras e serras, tudo calmo, bom e perfeito, como meu nome escrito com giz branco na lousa negra do “Gymnasio do Estado”, Edwaldo Eugênio Arantes, aprovado.

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