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Fagner, Titãs e Engenheiros do Hawaii

Dia desses, passei minha crônica para meu amigo lá de Fortaleza, Antonio Laprovitera, conhecido no Ceará como Totonho Laprovitera. Ele é arquiteto, artista plástico de pri­meira, compositor, é dele o projeto e a execução do prédio do aeroporto de Jericoacoara, a 320 quilômetros da capital.

Depois de ler o texto, Totonho contou um causo que acon­teceu com Fagner, de quem é um super amigo. O cantor disse que estava em Madri e fora visitar Paco de Lucía, músico espanhol com trânsito no mundo todo – faleceu em fevereiro de 2014, aos 66 anos.

Ele convidou Fagner para jantar em um fino restaurante da cidade. Ao chegarem, o maître observou que Fagner tra­java paletó, mas sem gravata, e a casa não permitia o acesso com essa irreverência entre seus sofisticados clientes. Pois bem. Sem pestanejar, Paco se aproximou do maître, tirou-lhe a gravata, vestiu Fagner com o adereço e adentraram felizes ao elegante recinto. Fagner contou a Totonho e caiu na risada, imagino a cena.

Um causo que gosto muito de contar é sobre “Epitáfio”, música da banda Titãs. No começo eram cinco ou seis, hoje da velha formação restam três, preencheram antigas vagas com músicos de nova geração. Certa noite, faz muitos anos, logo que lançaram a canção, deram uma entrevista a Jô Soares que perguntou como surgiu a ideia de compor essa música. Eles disseram que foram ao velório de um amigo e a presen­ça deles causou certo tumulto, daí se mandaram ficando de voltar outro dia pra visitar o túmulo do amigo.

Escolheram um dia sossegado e lá foram eles passear no cemitério, entre túmulos de tudo que é tipo. Mas um chamou a atenção do grupo e os “titãs’ pararam pra ler o que estava escrito na lápide. Acharam interessante, anotaram e dias depois usaram o texto para compor parte da letra da música “Epitáfio”.

Eu sabia o que era lápide, mas, embora tenha ouvido falar sobre a palavra “Epitáfio”, não sabia o significado até então, que é o que muitos pedem para que seja escrito em sua última morada. Comecei a analisar a letra e imaginar o quanto infeliz foi o cara que morreu para solicitar um texto assim como seu epitáfio.

Veja só: “Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o Sol nascer. Devia ter arriscado mais, e até errado mais, ter feito o que eu queria fazer, queria ter aceitado as pessoas como elas são, cada um sabe a alegria e a dor que tem no coração, devia ter complicado menos, trabalhado menos, ter morrido de amor e aceitado a vida como ela é.”

Já li e reli muitas vezes essa letra, viajei cada palavra, e em cada palavra, sentia muita pena do cidadão que somente enxergou o significado de viver nos últimos momentos de sua vida.


Sobre os Engenheiros do Hawaii, digo que era a banda que meu saudoso filho Lucas Bueno mais gostava, sempre que ia numa loja de discos garimpava na esperança de encontrar no­vidades deles. Depois que ele partiu, me bateu a curiosidade de analisar a banda. O cantor e baixista Humberto Gessinger era o autor de quase todas as músicas e uma delas em especial me chamou a atenção, “Terra de Gigantes”.

Justamente a que Lucas mais gostava e que diz: “Hey, mãe, eu tenho uma guitarra elétrica, durante muito tempo era tudo que eu queria ter…”. E a letra segue com ele falando do descuido da juventude, dos amigos músicos, do pedido que ele fez pra mãe… Tudo na letra era bem Lucas, daí ele ter se identificado com essa banda.

Este CD da banda tem lugar especial em minha casa, mi­nha esposa o guarda com o maior carinho do mundo e assim vamos levando nossas vidas.

Sexta conto mais.

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