Tribuna Ribeirão
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“I love my husband” 

Rui Flávio Chúfalo Guião * 
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O Presidente da Academia Ribeirãopretana de Letras, Elias Antônio Neto, instituiu um programa mensal, denominado Encontros Culturais Online, toda segunda quarta-feira do mês, onde um acadêmico escolhe um conto, uma poesia, um escrito e debate o mesmo com os presentes. Sua função é conduzir os ouvintes pelos meandros e significados múltiplos que um belo texto tem. Daí, o condutor do encontro ser denominado provocador.  
 
O evento é aberto à comunidade, contando assim com a participação dos acadêmicos e demais pessoas que se interessem pelo tema. 
 
Na última semana, coube a este escriba a condução do Encontro Cultural. 
 
Escolhi o conto “I Love my husband”, de autoria de Nélida Piñon. 
 
Nélida Piñon nasceu no Rio de Janeiro, em 1937, na Vila Isabel, que já havia nos dado Noel Rosa, filha de imigrantes galegos que vieram tentar a vida na América. 
 
Desde cedo, interessa-se pela leitura e, com dez anos de idade, passa dois anos na Galícia, terra de seus pais, onde aprende a falar o galego, muito parecido com o português, do qual nossa língua se origina e toma conhecimento da cultura daquela nação espanhola, bem como de sua geografia rude. 
 
Formada em jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, torna-se uma das primeiras escritoras de nossa literatura a abordar a igualdade de direitos das mulheres, abordando temas de misticismo e religião que sobrevivem em toda sua obra, mostrando sua forte educação religiosa e sua vontade de se libertar dos dogmas da religião. 
 
Em 1989, é eleita para a Academia Brasileira de Letras e, sete anos depois torna-se sua presidente, a primeira mulher a atingir este cargo, justamente no ano do centenário do Sodalício.  
 
Publicou 10 romances, 4 livros de memórias, 6 livros de contos, 1 livro de crônicas, 4 de ensaios e um livro infanto-juvenil, 
 
Cidadã do mundo, espalhou notícias de nossa literatura por várias partes e recebeu vários prêmios nacionais e internacionais, com o prestigiado Príncipe das Astúrias. 
 
Lutava contra um câncer e morreu em Lisboa, no ano de 2022, em decorrência de um procedimento de urgência, do qual não sobreviveu. 
 
O conto “I Love my husband” conta a vida de uma mulher totalmente dominada e devotada ao marido, que encontra (ou procura encontrar) sua realização através de sua submissão ao marido. 
 
No decorrer da leitura percebe-se que a autora usa de sutil ironia para caracterizar o papel da mulher na relação matrimonial. Em vez de criticá-la, usa da tática de salientar a sua postura, como forma de levar o leitor a repelir o modelo. 
 
Embora tenha havido muito progresso entre a data da criação do conto e os dias de hoje, quando a mulher já se emancipou bastante e, através de lutas próprias, sem quotas, buscou seu papel na humanidade, ainda muito se tem a fazer para que haja efetiva igualdade entre homem e mulher. 
 
O conto enseja pensar em como a mulher foi desconsiderada como ser, como sua inteligência foi negada, embora sua presença na história do mundo seja indispensável até hoje. 
 
A discussão que se seguiu foi muito produtiva, com a efetiva participação de todos. 
 
Vale a leitura do excelente conto de Nélida Piñon. 
 
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e secretário-geral da Academia Ribeirãopretana de Letras 

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