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‘Ironman’ do dia a dia 

Triathlon de longa distância muda vidas ao promover saúde e superação para amadores (Arquivo pessoal)

‘Ironman’ do dia a dia 

Triathlon de longa distância muda vidas ao promover saúde e superação para amadores 

 

Por Hugo Luque 

Longas distâncias, três modalidades diferentes e muita superação. O triathlon não é fácil e exige muita força, sobretudo mental, e tem se tornado cada vez mais popular entre os brasileiros. Pode até parecer, mas não é necessário ser nenhum super-humano para evoluir e chegar em uma das provas mais duras entre as disputadas em apenas um dia: o Ironman (“homem de ferro”, na tradução para o português) – são 3,8 km de natação, 180 km de ciclismo e 42,2 km de corrida. 

Após dez anos de muito treino, dedicação e evolução, tanto física quanto mental, o agora aposentado Ademir Barreto prepara, há quase um ano, seu presente de aniversário de 60 anos. O atleta amador vai disputar a edição de Florianópolis (SC) do Ironman, neste domingo (1º). 

“Fiz o treinamento durante nove meses e me preparei. Tive o percalço da dengue no final, mas me recuperei bem. O trabalho eu já fiz, agora é a diversão. Minha meta é terminar a prova bem e tranquilo, mas cansado. Tenho até 17 horas para completar, mas calculo fazer em até 15 horas”, projeta. 

Outro participante do evento, que vai reunir competidores de todos os cantos do país e até do exterior, é Fabiano Ribeiro, editor dos jornais de domingo deste Tribuna. Responsável por convencer Barreto a iniciar na modalidade, o jornalista destaca o desafio como carro-chefe da prática. 

“Eu sempre quis fazer o Ironman. Sempre gostei de esportes que provocassem desafios. Mas para fazer o Iron você precisa de dois investimentos importantes: tempo e dinheiro. Por conta de compromissos profissionais, o tempo sempre foi um problema. Dinheiro então, tem de se programar. Nos últimos anos eu me programei e consegui conciliar.” 

Tudo tem um começo 

Hoje, a dupla está preparada para enfrentar as longas distâncias e as várias horas em atividade física na capital catarinense. Há 15 anos, todavia, isso seria quase inimaginável para Barreto, que não teve uma boa primeira experiência com o triatlo. 

“Falei que nunca mais faria, porque cansei muito. Porém, em 2015, voltei a fazer os treinos com um amigo. Ele me treinou e fiz a primeira prova. A evolução é natural”, comenta. 

Fato é que não existe apenas um caminho que leve à linha de chegada do Ironman. Enquanto Ademir Barreto chegou a desistir do triathlon por um tempo e ficou apenas no eventual futebol com os amigos, profissional de educação física Rafael Falsarella já tinha histórico de competições de alto rendimento quando conheceu a nova modalidade. 

“Comecei no triathlon com 26 anos. Eu já praticava ciclismo desde moleque e disputava algumas competições. Quando comecei a estudar educação física, fiz estágio em uma academia. O proprietário é corredor de ultramaratonas e maratonas. Comecei a participar mais das corridas com ele e acabamos virando amigos. Somos até hoje.” 

Foram várias competições e muitos quilômetros nadados, pedalados e corridos desde 2008. Ao longo do tempo, os resultados vieram e, com isso, surgiram patrocinadores e oportunidades, como a de disputar o Mundial. A experiência foi tanta que Falsarella decidiu compartilhar seu conhecimento com profissionais e amadores, agora como treinador. 

“Quando você sabe o que está falando e viveu aquilo, é muito mais fácil de lidar com aquilo para você e para o atleta”, explica. 

Mesmo com tantas “horas de voo” como profissional, o treinador acredita que o sacrifício de um triatleta amador é, por vezes, tão grande ou até mesmo superior em comparação ao de quem vive para isso. 

“Existe muito sacrifício na parte pessoal e na profissional. Você começa a ter de lidar com horários de trabalho e treino. É muita dedicação e sacrifício para um atleta amador. Para um profissional, não é que não tenha sacrifício, mas ele tem de lidar menos com essas coisas, porque aquilo é o trabalho dele.” 

No caso de Ademir Barreto, o Ironman surgiu como uma possibilidade concreta apenas com a aposentadoria. Ele disputou várias outras categorias da modalidade, entre elas o Ironman 70.3, também chamado de Meio-Ironman. Contudo, uma prova como a deste fim de semana exige uma dedicação duas vezes maior e as 24 horas do dia, às vezes, ficam curtas. 

“Após a aposentadoria, tive mais possibilidade de poder treinar. (…) Tenho um tempo disponível bem grande para fazer os exercícios. Mas tem de ter continuidade e efetividade nos treinos. É importante fazer seu corpo esperar a pancadaria que vem por aí, porque é muito treino”, conta. 

O sacrifício e a superação 

A jornada é dura e exige muito também da questão psicológica. Quando começou no triathlon, o paulistano radicado em Ribeirão Preto sofria com problemas de saúde e vivia à base de remédios. A mudança veio com paciência e muito esforço, e seu maior troféu não é feito de metal, mas de saúde. 

“Eu tinha um peso bem elevado, pesava 117 kg. Comecei a passar mal e fui ao médico. Descobri que tinha gordura no fígado e comecei a tomar remédios. Com o excesso de peso, a diabetes apareceu junto com a pressão alta. Tomava remédios de glicemia, pressão, para o fígado, depois comecei a ter colesterol alto.” 

“Com o esporte, aos poucos, fui retirando todos esses remédios. Hoje, graças a Deus, não tem nada mais. Foi simplesmente o esporte. Nada de bariátrica ou loucuras em dietas. Superei aos poucos. Fui dos 117 kg aos 88 kg para fazer o Ironman”, celebra. 

Agora, chegou a hora da última fronteira na vida de Barreto dentro do triathlon, logo a maior delas. Mas não há pressão, porque, para quem já superou graves problemas, o Ironman está mais para uma solução. 

“Alcançar essa modalidade é o máximo, porque é o Ironman completo. São 3,8 km nadando em mar aberto, 180 km pedalando e 42 km de corrida. Esse é o objetivo maior para a pessoa que faz o triatlo. É a meta de todo mundo que quer chegar ao máximo”, acrescenta o aposentado. 

Super-heróis da vida real 

Fica claro, pela animação dos praticantes ao comentarem sobre a modalidade, que o triathlon não é apenas um esporte, mas um estilo de vida. Fabiano Ribeiro, por exemplo, acredita que a exigência física das provas se torna, ao longo do tempo, apenas mais um obstáculo a ser vencido na vida, entre tantos outros. 

“Treinar um ciclo de Ironman você consegue transportar para a vida. Por exemplo: se você encarar suas funções profissionais como os treinos, é uma grande possibilidade de sucesso. (…) Se você conseguir usar essa mesma administração em assuntos profissionais e pessoais, você terá equilíbrio. Não pode treinar demais e nem muito pouco. Fazer o que se deve fazer da melhor maneira possível”, enfatiza. 

Os competidores amadores do Ironman deste domingo não necessariamente lutam contra bandidos ou têm superpoderes, mas desenvolveram a resistência do Homem de Ferro, a agilidade do Homem-Aranha e a presença de espírito do Batman. Tudo isso com muita dedicação e paciência. Afinal, todos têm de começar de algum lugar 

“Se a pessoa tem vontade de conhecer o triatlo e ingressar nessa modalidade, experiência própria: vá, faça e não precisa pensar em fazer um Ironman, porque isso vai surgir quando você for subindo no triatlo. Muitas pessoas param, mas outros gostam de se desafiar um pouco mais. É só começar, e pode ser qualquer pessoa. Não é prejudicial e tem de ter vontade. Eu indico que comece”, afirma Ademir Barreto. 

“Para o sedentário ou para uma pessoa ativa que pratica um esporte, mas quer treinar algo a mais, o triatlo é maravilhoso, porque você consegue trazer para a vida pessoal. É uma organização de treinos. Além de acordar cedo e dormir cedo, você tem até três treinos no mesmo dia. É uma organização muito grande na vida. Não traz só benefícios físicos, por ser saudável, mas também para o dia a dia e para a vida pessoal”, completa Falsarella. 

 

 

 

 

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