O rei Charles III e a rainha Camilla rezaram nesta quinta-feira, 23 de outubro, com o papa Leão XIV em uma visita histórica ao Vaticano para estreitar as relações entre a Igreja Anglicana e a Católica.
No momento de rezar com o pontífice, o monarca britânico e Camilla sentaram-se em tronos dourados no altar elevado da Capela Sistina, em frente ao “Juízo Final” de Michelangelo, enquanto o papa Leão XIV e o arcebispo anglicano de York presidiam um serviço ecumênico.
O evento marcou a primeira vez desde a Reforma que os líderes das duas igrejas cristãs, divididos há séculos por questões que agora incluem a ordenação de mulheres sacerdotes, rezaram juntos.
A música que acompanhava refletia uma herança musical anglicana e católica compartilhada: hinos eram cantados por membros do coro da Capela Sistina e por membros visitantes de dois coros reais: o coro da Capela de São Jorge do Castelo de Windsor e o coro infantil da Capela Real do Palácio St.James.
Caso Jeffrey Epstein – A visita ao Vaticano ocorre em meio a um contexto delicado para o monarca britânico, pois seu irmão Andrew enfrenta novas e comprometedoras revelações no caso do escândalo sexual de Jeffrey Epstein.
Na sexta-feira (17), o Príncipe Andrew renunciou ao uso do seu título real, o Duque de York, completando uma queda em desgraça que começou há quase seis anos com uma desastrosa entrevista televisiva sobre suas ligações com o criminoso sexual condenado Epstein.
O príncipe, de 65 anos, já havia sido afastado desde 2019 dos atos públicos da família real devido ao caso. O escândalo que há muito tempo persegue o irmão do rei foi retomado esta semana, após a publicação de um livro de memórias de Virginia Giuffre, acusadora de Epstein. Andrew negou as alegações de Giuffre.
O Palácio de Buckingham e o governo do Reino Unido estão sob pressão para retirar formalmente de Andrew seu ducado e título principesco, e expulsá-lo da mansão de 30 cômodos perto do Castelo de Windsor, onde ele mora.
Laços entre igrejas – Os anglicanos se separaram da Igreja Católica em 1534, quando o rei inglês Henrique VIII teve seu casamento anulado. Embora os papas tenham construído relações calorosas com a Igreja da Inglaterra e a Comunhão Anglicana em geral, durante décadas, em um caminho rumo a uma maior unidade, as duas igrejas permanecem divididas.
O culto na Capela Sistina, no entanto, marcou um novo passo histórico em direção à unidade e incluiu leituras e orações focadas no tema unificador de Deus, o criador. Nesta quinta-feira, o rei Charles III também recebeu formalmente um novo título e reconhecimento na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, que mantém fortes laços tradicionais com a Igreja da Inglaterra.
O título de “Confrade Real” é um sinal de comunhão espiritual sendo retribuído pelo monarca britânico: Leão XIV recebeu o título de “Confrade Papal da Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor”. Na basílica, o monarca britânico recebeu uma cadeira especial decorada com seu brasão, com a exortação em latim “Ut Unum Sint” (Que sejam um), o mantra da unidade cristã.
A cadeira permanecerá na basílica para uso do rei Charles III e seus herdeiros, disseram autoridades. O cardeal Vincent Nichols, arcebispo católico de Westminster, disse que a visita do rei britânico fortalece o relacionamento estabelecido pela rainha Elizabeth II, que veio a Roma seis vezes durante seu reinado, incluindo durante o Ano Santo de 2000 ”O papa Leão XIV e o rei Charles III reunidos diante de Deus em oração é um exemplo de uma cooperação genuína e profunda”, disse ele à Associated Press.
Ele lembrou que o rei Charles III aceitou seu papel constitucional como governador supremo da Igreja da Inglaterra, “mas também seu papel na proteção da liberdade religiosa e do importante papel da fé na sociedade em todo o seu reino”.
A visita ocorre poucas semanas após a eleição da primeira mulher arcebispa de Canterbury, Sarah Mullally. Ela não se juntou ao rei e à rainha no Vaticano, pois ainda não havia sido formalmente empossada como líder espiritual da Igreja da Inglaterra. Em seu lugar, estava o arcebispo de York, o Reverendíssimo Stephen Cottrell. Enquanto o rei lida com as tensões internas relacionadas ao escândalo Epstein, a eleição de Mullally agravou as tensões dentro da Comunhão Anglicana no exterior.
Tem mais de 85 milhões de membros espalhados por 165 países, sendo o arcebispo de Canterbury considerado o “primeiro entre iguais” entre seus bispos. Mas, após a nomeação de Mullally, um cisma de longa data na Comunhão Anglicana parece estar próximo de uma ruptura definitiva.
Uma organização de primatas anglicanos conservadores – que representa a maioria dos membros da comunhão, principalmente na África – anunciou que está rejeitando todos os vínculos burocráticos que historicamente conectaram a Comunhão Anglicana. A Global Fellowship of Confessing Anglicans (Irmandade Global de Anglicanos Confessantes, em livre tradução), conhecida como Gafcon, diz que está formando uma nova estrutura, embora afirme que ela representa a histórica Comunhão Anglicana em uma forma “reordenada”.

