Acabo de reler com o mesmo interesse e entusiasmo o excelente livro “A História do Mundo em seis Copos”, de autoria do jornalista inglês Tom Standage. Através de capítulos dedicados a seis tipos de bebidas que se tornaram de uso universal, o autor nos mostra como cada uma delas influenciou o desenvolvimento do tempo de seu surgimento, permanecendo até hoje como valor cultural.
A primeira bebida de uso universal foi a cerveja. Não se sabe a época exata de seu surgimento, mas foi no Crescente Fértil, região onde hoje se localiza o Iraque. Deve ter nascido da fermentação ocasional dos grãos armazenados precariamente pelos primeiros agricultores e logo tornou-se a bebida de todas as classes. Bebia-se a cerveja em todas as refeições, inclusive no café da manhã.
Os gregos, que inventaram a filosofia, bebiam cerveja, mas também o vinho, este muito usado em seus simpósios, refeições/debates onde a bebida animava as discussões. O vinho, também originário do Crescente Fértil, passou a ser bebida refinada, parte integrante da cultura helênica, relegando a cerveja para as classes mais humildes.
O Império Romano, conquistando as grandes cidades gregas, absorveu seus hábitos e costumes sofisticados, dentre eles, o uso do vinho, que se espalhou rapidamente pelo seu vasto território, tornando-se a segunda bebida universal.
Com o advento das Grandes Navegações, nos séculos XV e XVI, transportar cerveja e vinho tornou-se um problema para os marinheiros. Surgiram então os destilados, obtidos pelo uso da técnica alquímica dos mouros que dominavam a Espanha. Num primeiro momento, destilavam o vinho obtendo um novo líquido de maior teor alcoólico e de longa duração.
Com o crescimento das plantações de cana-de-açúcar no Caribe e nas Américas surgiu o rum, destilado do resto de cana esmagada na produção açucareira. No Brasil, o rum era chamado de cachaça. A coleção de destilados foi crescendo com a inclusão dos uísques, aquavitae, vodka, sakê e outros, tornando-se os destilados a terceira bebida universal.
Um líquido negro e forte trazido da Arábia começou a seduzir os europeus, que o tomavam em estabelecimentos públicos, onde, além da bebida, podia-se saber das novidades e até mesmo conspirar. O café conquistou rapidamente a preferência de todos, por suas propriedades energizantes. Ao contrário das bebidas alcoólicas, que deixavam o usuário com um langor, senão bêbado, o café estimulava a mente, aumentava a energia muscular, isto tudo em pequenas doses. Surgiu então a quarta bebida universal.
Quando a Inglaterra, detentora do maior império do mundo, conquistou a China, trouxe de lá o chá, bebida obtida da infusão de folhas e largamente usada pela população. Com seu alto teor de cafeína, o chá provocava os mesmos efeitos do café e rapidamente ocupou o posto de quinta bebida universal.
Interessante notar que o café e o chá permitiram um efeito reflexo na saúde pública, pois ao ferver a água, poluída e contaminada, eliminavam-se os micróbios. Muitos dos bons efeitos sentidos com o uso das duas bebidas podem ser creditados a este simples ferver da água.
Finalmente, a última bebida a ingressar no rol das amplamente usadas por todos é a Coca-Cola. Produzida num momento de crescimento dos Estados Unidos e vendida inicialmente como remédio, teve seu grande momento de expansão na II Guerra Mundial, quando os GI recebiam semanalmente uma dúzia de garrafas e partilhavam algumas com as populações onde lutavam. Hoje, a Coca-Cola, já sem extrato de coca, é o refrigerante mais vendido no mundo, tendo se transformado num símbolo de modernidade e globalização.
O livro é muito interessante, pois em cada capítulo o autor coloca anotações históricas dos períodos analisados e destaca os efeitos sociais e econômicos de cada bebida, numa narrativa muito mais profunda e detalhada do que esta crônica. Vale a leitura.