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O vírus do negacionismo e a politização da vacina

A face mais cruel do bolsonarismo se escancara neste mo­mento e coloca em risco a vida de milhões de brasileiros. Nos­so país que sempre foi reconhecido pelo seu eficiente sistema de vacinação em massa, aprimorado com o advento do Sistema Único de Saúde (SUS), agora vive um panorama desolador. O governo do capitão presidente assume abertamente seu forte viés negacionista, mais perigoso do que o próprio Covid-19, afronta a ciência e chega a fazer campanha aberta contra vaci­nas promissoras, em clara politização da pandemia.

O governo Bolsonaro ignora os avanços da CoronaVac, vacina produzida pelo Instituto Butantã, de São Paulo, em parceria com a chinesa Sinovac. Já Doria anuncia planos para início da vaci­nação em 25 de janeiro, mesmo diante da incerteza se haverá a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O governo federal prevê vacinação apenas para março e leva em conta apenas a vacina da AstraZeneca, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Na última pandemia enfrentada pela humanidade, a do H1N1, entre 2009 e 2010, o então presidente Lula (PT) liderou um processo amplo de vacinação. E a maior parte das vacinas foi produzida pelo Instituto Butantã. Na época, São Paulo era governado por José Serra (PSDB). Serra e Lula eram adver­sários ferrenhos no campo político, mas o processo de imu­nização iniciado em março foi eficiente e não teve esses tons sombrios de negacionismo e politização como agora.

Em 2010, Lula garantiu vacina para todos que eram indicados a tomá-la. Ninguém lembrava se a vacina era do Butantã, ligado ao governo paulista. “A questão também é que para bancar vacina para todos, Bolsonaro precisa liberar dinheiro. Hoje, ele e Guedes estão querendo retirar 35 bilhões do Ministério da Saúde (22% do orçamento atual)”, lembra o deputado federal Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde. Como resultado da vacinação contra o H1N1, o Brasil foi o país com maior número de imunizados no mundo: mais de 100 milhões de pessoas.

Hoje, o combate ao covid-19, uma pandemia muito mais mortal do que o H1N1 e que deveria ter uma liderança na­cional, assim como a campanha de vacinação em massa, está regionalizado, com cada estado e município atirando a torto e a direito. A questão da Anvisa é ainda mais delicada. O órgão é, em tese, politicamente autônomo, mas tem no comando do país um presidente tresloucado com postura contrária à ciên­cia e à segurança de todos nós e que tenta aparelhar o órgão regulador. Ele desdenha da vacina como já o fez em relação à própria pandemia.

Governadores e prefeitos de todo o país estão entrando com ações no STF para que estados e municípios possam ad­quirir vacinas de forma independente do governo federal. “O Objetivo é que possamos adquirir vacinas contra o coronaví­rus autorizadas por agências sanitárias dos Estados Unidos, União Europeia, Japão e China. Com isso, os estados poderão atuar, se o governo federal não quiser”, afirmou Flávio Dino, governador do Maranhão. Em toda a História do Brasil, nunca tivemos uma questão sanitária tão séria, conduzida tão mal pelo governo federal.

E mais uma vez o STF, que já legisla há muito tempo por inanição do Legislativo, vai fazer o papel do Executivo agora em uma questão tão séria para a nossa vida devido ao nega­cionismo de Bolsonaro. Padilha observa ainda que o governo federal pode encerrar o reconhecimento da pandemia agora em dezembro. “Ele pode alegar que a lei não vale mais para 2021 enquanto não tiver outro decreto presidencial. Aí, o STF vai mediar, porque a pandemia ainda está acontecendo em todo o mundo e a segunda onda avança pelo Brasil. O Execu­tivo pode não reconhecer a pandemia para o ano que vem e essa será a briga”, afirma o ex-ministro da Saúde.

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