Tribuna Ribeirão
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Osmar Santos e César Maluco

Neste carnaval, eu estava com minha família na Praia da Ensea­da, no Guarujá, e esta região tem a fama de invernar em pleno verão quando chove, cortando o barato da gente que vai para lá atrás de dias de sol. Chegamos na sexta, tipo duas da tarde, e fomos tratar de abastecer o apê. Pra minha surpresa, a cerveja que pagamos R$ 2,10 aqui lá estava R$ 1,95, a mesma marca. O gás de cozinha estava R$ 85 em Ribeirão Preto, e no litoral o botijão saiu por R$ 63.

Frutas e legumes, tudo mais barato que em Ribeirão Preto. Isso em pleno carnaval e no Guarujá! Como é que pode sermos tão ex­plorados aqui em Ribeirão Preto? Impressionante! Mas, como dizia o folclórico e inesquecível Vicente Matheus, presidente do Corin­thians, que já se mandou: “Quem tá na chuva é pra se queimar”.

Bem, sábado amanheceu com o maior toró, não deu praia, já o domingo pintou lindo, com um sol que me levou a acordar minha galera cedinho. Fui na frente e montei meu boteco como gosto. Percebi que o mar não estava com cara de bons amigos, passou o dia todo avisando que ia aprontar. Foi chegando aos poucos, invadindo nosso espaço de lazer, foi aumentando seu volume de água e a gente lá, só alegria.

As ondinhas carinhosas molhavam os pés da plateia e, já qua­se no final da tarde, deu uma recolhida e depois veio com tudo. Foram ondas seguidas, levando tudo que estava à sua frente, foi a maior muvuca. Levei uma cadeirada na canela que dói até hoje. Conseguimos salvar meu cooler de cervejas e alguns petiscos, e meu netinho Kauã lutou bravamente segurando nosso guarda­-sol. Enfim, entre mortos e feridos salvaram-se todos e ficaram histórias para serem contadas.

Na segunda, dia lindo, estava com meu boteco praieiro aberto e conversando com um vizinho de guarda-sol. Ele é de Marília, amante de futebol e palmeirense. Disse que gostava de quando ia ao campo com seu radinho de pilha e ouvia seus locutores preferidos. Lembrei-me de meus ídolos daqui, que nos colocavam na jogada como Pedro Giacomini, Helton Pimenta e, hoje, Jorge Vinícius, que me emociona muito narrando um gol.

Nessa onda, lembrei-me de Osmar Santos, que após seu acidente, sem poder falar, é acompanhado por um jornalista que serve de porta-voz, sabe tudo dele. Numa Feira do Livro aqui em Ribeirão Preto, eu e Sócrates fomos almoçar com eles no antigo Pinguim. Ali ouvi histórias inesquecíveis, e conto duas agora. Os­mar Santos morava em Marilia e, até os três aninhos, não falava uma palavra. A mãe tentou de tudo, até que encontrou uma ben­zedeira. A mulher disse pra ela ir na mata, pegar um passarinho e forçá-lo a bicar a boquinha de Osmar Santos.

Lá foi a mãe mata dentro. No primeiro dia, nada. No segundo, nada. Mas, mãe é mãe, e mãe com fé é muito mais mãe. No terceiro dia ela pegou o tal passarinho e, segurando­-o carinhosamente e orando a Deus, o fez bicar a boquinha do pequeno Osmar, que destravou a língua de vez, tornando­-se o maior locutor esportivo do Brasil.

Osmar era muito amigo de César Maluco, camisa nove do Verdão, e toda quinta-feira eles saíam com suas esposas para uma pizza. Ali, na mesa tomando um vinho, Osmar teve uma ideia brilhante. “César”, disse ele, “domingo no Parque Antártica, quando você fizer um gol, eu vou narrar que você vai pra torcida e vai jogar sua camisa, mas vai devagar pra dar aquele impacto, fechado?”

“Fechado, compadre”, disse César. Chega o domingo, campo lotado, toda torcida de radinho colado no ouvido ouvindo Osmar Santos, a Academia do Palmeiras jogando o fino da bola, César faz um gol e Osmar exalta: “Lá vai César rumo à torcida”. Nessa altura o campo todo está de pé ouvindo Osmar, querendo ver a cena. Osmar continua: “Ele vai tirar a camisa, tiroou!!! Ele vai jo­gar pra torcida”. César joga a camisa e Osmar grita: “Jogooou!!!” A galera foi ao delírio, aplausos e mais aplausos, o Parque Antártica viveu nesta tarde um espetáculo, inocente e cativante, coisa rara de acontecer nos dias de hoje. Que pena. Sexta conto mais.

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