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Sérgio Reis, Almir Sater e Sócrates

Sérgio Reis chamava Sócrates de “Comprido” ou “Magrão”, e o “Doutor” o chamava de “Grandão”. Certa vez, fui cantar no programa do saudoso Wil­son Tony e quando lá cheguei, dei de cara com Sérgio Reis. Foi divulgar um de seus shows. Wilson Tony apresentou-me a ele dizendo: “Esse é o Bueno, artista local e parceiro do Sócrates em muitas músicas”.

“Uai”, disse ele, “esse Comprido é fogo, onde tem arte pode ver que ele tá no meio”. Sócrates estava em Fortaleza, liguei pra ele e os dois levaram o maior lero, Serjão nos convidou para seu próximo show aqui em Ribeirão Preto, que aconteceria dois meses depois, e é claro que fomos.

Depois do show, fomos jantar com o artista e o filho dele, que é músico de sua banda. Quantas histórias eu ouvi, e gravei na memória as possíveis (rsrsrsr). Serjão estava na maior felicidade por estar ali com seu ídolo. Na verdade, uma idolatrava o outro. O cantor contava um causo atrás do outro, e teve um momento que ele perguntou a Sócrates: “Comprido, você já foi na fazenda do Almir?”

Magrão disse que não e ele emendou: “Você tem que ir, Comprido”. Rindo um bocado, disse: “Lá a vida passa bem devagar, você tem tempo pra admirar a beleza nas coisas que por aqui deixamos passar batido. Olha só essa, Comprido, quando acabou a novela em que eu e Almir Sater fizemos o papel de boiadeiros e violeiros, decidimos tirar férias na fazenda dele lá no Pantanal, a casa dele fica pertinho do rio”.

E prosseguiu: “Êêê sossego, Sócrates. Redes cearenses de descanso pela varanda toda… Teve uma manhã em que Almir, animadão, falou: ‘Ô Grandão… Vamos pescar rio acima?’ Topei no ato, coloquei umas latinhas de cerveja numa caixa de isopor, embarcamos na sua confortável canoa e lá fomos nós”, disse.

“Muito calor, eu de bermudão, resolvi tomar uma cerveja. Quando dei o último gole, joguei a latinha no rio, fiquei vendo a correnteza levá-la, foi quando meu parceiro Almir falou: ‘Ô, Grandão, essa latinha vai demorar 100 anos pra ser destruída pela natureza.’”

Conta Sérgio Reis que naquele momento sentiu um não sei o quê no peito, tirou o chapéu, deu uma ponta nas águas do rio e saiu na braçada até alcançá-la. De volta a canoa, envergonhado, até pediu desculpas ao parceiro.

Ai entrou Sócrates nos causos e foi falando… “Ô Grandão, me deixe contar essa do Almir… Eu e o Buenão fomos ao show dele com nossas esposas no magnífico Theatro Pedro II, depois fomos jantar no antigo Pinguim, era mais de onze da noite, já tínhamos pedido ao garçom pra fechar a conta e trazer dois chopes de saideira quando entrou Almir Sater, vestido do mesmo jeito que fez o show, botas, chapéu e aquela capa de boiadeiro”, detalhava o Magrão.

“Ele encostou no balcão e pediu um chope pro garçom, só tinha a gente naquela noite fria por ali. Almir colocou o cotovelo no balcão, copo na mão, deu uma deliciosa golada e sondou o ambiente. Deu de cara comigo olhando pra ele e logo gritou: ‘Doutor!!!’ Trocamos um abraço, aquele de grandes amigos que nunca haviam se encontrado. ‘Posso sentar com vocês?’, pergun­tou”. Sócrates emendou: “Claro”.

Abrimos nova conta e o papo foi maravilhoso, o Pinguim fechou as portas e nós lá dentro, os garçons não foram embora, fizeram uma carreira de cadeiras atrás do artista só pra ouvir os causos. Sócrates percebeu que algo incomodava Almir e perguntou o que era. Ele disse que estava louco pra pitar um cigarro de palha, mas tinha vergonha.

“Falei pra ele fazer o cigarro que eu pitava junto”, disse Sócrates. “O sem­blante do músico mudou, tirou do bolso interno da capa a palha, o fumo que disse ser goiano e um canivete todo ensebado de picar fumo, fez um enorme cigarro de palha e nós dividimos aquele prazeroso cigarro. O papo foi longe, invadimos a madrugada saímos de lá mais de quatro da manhã”, disse o Doutor para Serjão.

Vivi tudo isso, foi um privilégio e vendo Sócrates contar este causo pro Serjão, lembrei-me dos dois pitando aquele enorme cigarro que parecia um “tresoitão cano longo”, aquela fumaça cheirosa esparramando pelo ambiente parecia selar uma amizade de anos, mas que apenas se iniciava. Pra mim, que sou fã dos dois, digo que foi uma noite inesquecível.

Sexta conto mais…

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