Tribuna Ribeirão
Cultura

Série ‘I May Destroy You’ se junta à coleção de boas obras de Michaela Coel

Por Leandro Nunes,

Quando Chewing Gum estreou em 2015 na Netflix, muita gente torceu o nariz pela estranheza da personagem Tracy Gordon, com suas longas tranças e caretas estranhas. Papel da atriz, diretora e roteirista Michaela Coel, a personagem criada em uma família religiosa tentava perder a virgindade aos 24, sem qualquer dica de como começar.

Vinda dos palcos, a história ganhou o streaming provocando certo desconforto ao tratar assuntos caros a Michaela, como o comportamento das mulheres frente ao machismo e racismo. Em 2020, essa trajetória parece se coroar com a I May Destroy You, série da HBO.

Na nova produção criada, dirigida e atuada por Michaela, o assunto é sério. A personagem, a jovem escritora Arabella vive uma saga ao perseguir as pistas de uma violência brutal. No primeiro episódio, ela chega de viagem e está decide sair com os amigos para matar a saudade.

No dia seguinte, pela manhã, Arabella desperta com um machucado na testa e sem se lembrar da noite anterior. O que ela tem são apenas fragmentos de memória sobre um homem desconhecido e um ato violento no banheiro.

Em 12 episódios de 30 minutos, o espectador se torna testemunha junto à personagem, na reconstituição da ocorrido e da dor que jovem vai enfrentar ao descobrir os fatos.

Arabella é cercada de amigos que a acompanham durante a denúncia na delegacia até os reencontros com pessoas que estiveram na festa. Mas o caminho também é bastante solitário e a jornada dessa mulher parece ser bastante comum, no sofrimento compartilhado e também no silêncio, que torna a sociedade cúmplice do crime.

Aliás, a trama da série é inspirada em um caso real, vivido por Michaela. Em entrevistas, a atriz já contou detalhes sobre o ato criminoso. Enquanto escrevia a série Chewing Gum, a artista fez uma pausa para encontrar amigos, e quando voltou tinha apenas flashes sobre um homem desconhecido.

Essa franqueza está no espírito de I May Destroy You, o que pode ter assustado um pouco a Netflix, que negou certas liberdades criativas quando a autora apresentou o projeto para a plataforma. A solução de Michaela foi levar a série para a BBC, e mais tarde, a produção entrou no catálogo da HBO.

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