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Servidor público não é bode expiatório

João e Antônia estão jantando, acompanhando o telejornal e uma reportagem chama a atenção do casal. Ela aborda os privilégios do funcionalismo público e ouve um ministro, um prefeito e um economista dizendo que os servidores são os responsáveis pela que­bra da Previdência e pelo endividamento de estados e municípios. O casal não percebeu que nenhum representante dos servidores foi ou­vido pelo repórter, mas concordaram com a abordagem. Eles passam a acreditar que o funcionalismo ganha muito e trabalha pouco.

A noite estava quente e resolveram levar sua única filha até a sorveteria próxima da residência. No caminho, um motorista em alta velocidade bate em um buraco, perde o controle do veículo, colide em outro que estava estacionado e atropela a família. Dois guardas municipais que patrulhavam a praça acionam o serviço de emergência. Uma unidade do Corpo de Bombeiros e duas ambu­lâncias do Samu chegam e iniciam os atendimentos e agentes de trânsito organizam o fluxo. Policiais militares conduzem o autor até a delegacia, onde escrivão e delegado colhem o depoimento e encaminham o sujeito ao médico legista para verificação de even­tual embriaguez. No local do acidente peritos da Polícia Científica registram cada detalhe. Na manhã seguinte trabalhadores estão recapeando e sinalizando o trecho.

A família é atendida na Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas onde as equipes de enfermagem e médica continuam os procedimentos necessários para salvar as vidas.

Posteriormen­te, radiologistas, fisioterapeutas e outros profissionais da saúde se empenham na recuperação plena de todos. Agentes do Serviço de Atenção Domiciliar colaboram nos curativos diários e profissionais da saúde da família realizam visitas frequentes. O pai aciona o INSS para receber o benefício previdenciário. Também procura um defen­sor público para acionar o motorista imprudente que foi processado civil e criminalmente. Ao longo dos processos e seus recursos, escre­ventes, promotores, juízes e desembargadores são mobilizados.

A família passa por dificuldades econômicas e a esposa procura a assistente social do bairro. Os professores elaboram uma estratégica para a adolescente recuperar a matéria perdida durante o período de convalescência. Aos poucos foram restabelecendo a saúde e reto­mando suas rotinas.

Novamente o casal janta assistindo ao telejornal, que informa a possibilidade de greve dos servidores públicos. Segundo o repórter, eles estão reivindicando reposição salarial e melhorias nas condições de trabalho. O casal acha um absurdo e começa a tecer pesadas crí­ticas ao funcionalismo. A filha muito antenada foi a única que parou para refletir sobre quem seriam os tais grevistas e alertou aos pais. Eles perceberam que bombeiros, socorristas, policiais, professores, servidores da justiça e a grande maioria das pessoas que cuidaram daquela família desde o momento do acidente é formada por funcio­nários públicos.

Os governantes de plantão elegeram o funcionalismo público como inimigo preferencial. Insistem no equívoco de achatar salários, reduzir investimentos, perseguir e desestimular justamente os profis­sionais que diuturnamente estão a serviço da população, especial­mente da porção mais necessitada. São os servidores que efetivam as políticas públicas, denunciam irregularidades e garantem o acesso da população aos seus direitos. É uma categoria que merece respeito e incentivo e não pode ser utilizada como bode expiatório da crise fiscal e das mazelas que o país enfrenta.

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