Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Meu querido amigo e confrade da C.A.V.E – Confraria dos Amigos do Vinho e da Enologia de Ribeirão Preto, o médico Davidson Alvarenga me presenteou com um exemplar da publicação “Wines of São Paulo”, que reúne a história e a produção de dez vinícolas paulistas.
Com a chegada dos imigrantes europeus, notadamente os italianos, surgiu em nosso estado o uso do vinho. Meu avô, José Chúfalo, no início de sua vida empresarial, tinha, na sua venda em Santa Cruz do José Jacques, uma pequena máquina manual de engarrafar vinho. Comprado em quartolas, barricas de 250 litros , ele transferia o vinho para as garrafas que vendia aos imigrantes italianos de nossa região. Esta máquina repousa agora na entrada de minha casa, como lembrança da caminhada de sucesso que ele teve em sua vida e da importância no vinho para os imigrantes vindos da Europa.
O vinho é bebida milenar, usado desde as primeiras civilizações e incorporado à cultura dos povos. Na Europa, de onde vieram nossos ascendentes, ele é parte do dia a dia das pessoas, tomado regulamente às refeições e parte das tradições dos países.
Na Igreja Católica, o vinho é usado na sua cerimônia maior, que é a missa, quando os fieis acreditam que ele se transfigura no sangue de Cristo, pela ação do sacerdote que a oficia.
No Estado de São Paulo, a videira sempre foi cultivada, dela se extraindo um vinho doméstico, produzido para uso da família. Um dos meus tios, Euclides Palma Guião, irmão de meu pai, quando chefe da Estação Experimental de Valinhos, já se aventurava a produzir vinho das videiras majoritariamente usadas para uvas de mesa.
Estas uvas de mesa produzem vinhos de média qualidade. Só com a chegada das mudas da vitis vinífera, nativa da Europa, é que começou o longo caminho em busca do vinho brasileiro de qualidade.
Com a exceção de regiões produtoras perto da capital do estado, onde o vinho de garrafão prosperava, nunca se imaginou que em nossas férteis terras fosse possível produzir vinho de qualidade.
Um experimento conduzido pela EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural, do estado de Minas Gerais, abriu caminho para os vinhos finos paulistas. Trata-se de um técnica de dupla poda, que adia o momento da colheita das uvas para o período do inverno, onde há uma variação maior da temperatura de dia e de noite – a amplitude térmica benéfica para o fruto- bem como a ocorrência de menor ataque de pragas, em virtude do clima mais ameno.
Praticando esta técnica, começaram a surgir empreendedores que acreditavam no vinho fino paulista, dentre eles os dez que compõem a associação Wines of São Paulo, retratados na publicação.
De nossa região metropolitana, temos duas das mais importantes e premiadas vinícolas, a Terras Alta, aqui em Ribeirão Preto e a Biagi, em Cravinhos. A Terras Altas foi fundada em 2016 e a Biagi, em 2022. Ambas produzem vinhos de uvas de qualidade, a Terras Altas predominantemente de uva Syrah e a Biagi de Sangiovese. A primeira oferece quatro tipos de vinhos e a segunda, cinco. Ambas têm pesquisado outras uvas, que em breve completarão os respectivos portfólios.
Ainda na nossa região, temos a MarchesediIvreia, em Ituverava, que aposta no cultivo de Sangiovese, Moscato Giallo e Nebiolo, oferecendo hoje oito tipos de vinho.
Participam também da publicação, as vinícolas Arcano, de Franca; a Casa Verrone, de Itobi; a Davo, de Ribeirão Branco; a Ferreira, da capital do estado; a Guaspari, de Espírito Santo do Pinhal; a Refúgio, de Bofete e a Villa Santa Maria, de São Bento do Sapucaí, oferecendo no total sessenta e três rótulos de ótimos vinhos de inverno.
Vale a pena prestigiar nossos produtores paulistas.
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e secretário-geral da Academia Ribeirãopretana de Letras