Tribuna Ribeirão
Política

PF indicia Bolsonaro e Eduardo

Pai e filho são indiciados pela PF após interceptações de conversas sobre incitação ao tarifaço ao Brasil (Lula Marques)

Agência Estado 
 
A Polícia Federal (PF) indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) pelos crimes de coação no curso de processo e abolição do estado democrático de direito ao tentar interferir no julgamento da ação penal do golpe, em curso no Supremo Tribunal Federal (STF).  
 
O relatório da PF que descreve os indícios de crimes cometidos pelo ex-presidente e o filho foi enviado ao gabinete do ministro do STF Alexandre de Moraes. Em seu despacho, Moraes determinou a aplicação de medidas restritivas contra o pastor Silas Malafaia, alvo de busca e apreensão e de retenção de passaporte. 
 
O Estadão procurou a defesa de Bolsonaro, a qual não havia se manifestado até a publicação desta reportagem. No documento, a PF relata que encontrou na residência do ex-presidente uma minuta de pedido de asilo político na Argentina. Para os investigadores, se trata de um indício de que Bolsonaro planejou uma fuga para o país vizinho. 
 
O inquérito sobre a tentativa de escapar do julgamento ensejou a imposição de medidas cautelares ao ex-presidente, que está em prisão domiciliar. “Com base nos elementos probatórios apresentados neste relatório, conclui-se que Eduardo Nantes Bolsonaro e Jair Messias Bolsonaro, com a participação de Paulo Figueiredo e Silas Lima Malafia, encontram-se associados ao mesmo contexto”, diz o relatório da PF. 
 
Segundo o documento de 170 páginas assinado pelos delegados Leandro Almada, Rafael Caldeira e Itawan Pereira, eles praticaram “condutas com o objetivo de interferir no curso da Ação Penal nº 2668 – STF, processo no qual o segundo nominado consta formalmente como réu”, escreveram. 
 
A Polícia Federal concluiu que o ex-presidente Jair Bolsonaro realizou mais de 300 compartilhamentos de vídeos no WhatsApp durante o período em que já estava proibido de usar redes sociais, incluindo perfis de terceiros. 
 
Esposas – A PF analisou as movimentações bancárias de Bolsonaro e Eduardo e identificou um “modus operandi” de pai e filho de repassar dinheiro para as contas de suas mulheres “para dissimular a origem e o destino de recursos financeiros com o intuito de financiamento e suporte das atividades de natureza ilícita do parlamentar licenciado no exterior”. 
 
Segundo os investigadores, o ex-presidente transferiu R$ 2 milhões para a conta da sua esposa, Michelle Bolsonaro, e, no dia seguinte, Heloísa Bolsonaro, esposa de Eduardo, recebeu os valores em sua conta. A transferência de Bolsonaro para Michelle ocorreu um dia antes de o ex-presidente comparecer à PF para prestar depoimento sobre as ações de Eduardo nos Estados Unidos. 
 
A avaliação da PF é de que o deputado federal usou a conta bancária de sua esposa “como forma de escamotear os valores encaminhados por seu genitor, utilizando como conta de passagem, com a finalidade de evitar possíveis bloqueios em sua própria conta”. 
 
Os investigadores também identificaram uma série de compras de dólar por Bolsonaro. Foram identificadas ao menos seis operações de câmbio realizadas pelo ex-presidente entre janeiro e julho deste ano. As movimentações foram identificadas por meio da quebra do sigilo bancário de Bolsonaro e Eduardo. O ex-presidente, segundo a investigação, também fez saques de dinheiro em espécie no valor total de R$ 130 mil no mesmo período. 
 
“Perseguido” – Conforme a investigação da PF, a minuta, com pedido de asilo político na Argentina, foi produzida após a deflagração da operação relacionada ao inquérito sobre o plano de golpe de Estado, que resultou na ação penal na qual Bolsonaro é réu no Supremo. 
 
De acordo com a PF, o arquivo foi editado pela última vez em fevereiro de 2024. No documento, endereçado ao presidente argentino, Javier Milei, Bolsonaro afirma que é “um perseguido por motivos e por delitos essencialmente políticos”. 
 
Xingamentos – As mensagens obtidas pela PF no celular do ex-presidente mostram também Eduardo xingando o pai e criticando gestos feitos por Bolsonaro ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Na visão do deputado federal, as declarações de Bolsonaro em apoio a Tarcísio poderiam atrapalhar o trabalho feito por ele e pelo comunicador Paulo Figueiredo perante o governo Donald Trump para sancionar autoridades brasileiras na tentativa de salvar o ex-presidente de uma eventual condenação por tentativa de golpe. 
 
Tarcísio é cotado para ocupar uma candidatura no campo bolsonarista na eleição presidencial de 2026, mas o filho do ex-presidente também quer a bênção do pai para se candidatar. Em uma das mensagens mais fortes, segundo a PF, Eduardo escreve a Bolsonaro no dia 15 de julho: “Eu ia deixar de lado a histório do Tarcísio, mas graças aos elogios que você fez a mim no Poder 360 estou pensando em dar uma porrada nele, para ver se vc aprender. VTNC SEU INGRATO DO C.…..“. 
 
Na entrevista citada, Bolsonaro diz que falou com o filho para interromper os ataques a Tarcísio, mas que, apesar de Eduardo ter 40 anos “ele não é tão maduro, talhado para a política”. 
 
“Me f…… aqui! Vc ainda te ajuda a se f…. aí! Se o IMATURO do seu filho de 40 anos não puder encontrar com os caras aqui, PORQUE VC ME JOGA PRA BAIXO, quem vai se f…. é vc e VAI DECRETAR O RESTO DA MINHA NESTA P…. AQUI. TENHA RESPONSABILIDADE!”, continua Eduardo Bolsonaro, segundo o documento da PF. 
 
Horas depois, já na madrugada do dia 16, o deputado federal pede desculpas ao pai. “Desculpa. Peguei pesado. Estava p… na hora”, diz ele na mensagem enviada a Bolsonaro. 
 
Eduardo pediu licença de 122 dias do mandato parlamentar em março e foi morar nos Estados Unidos, sob a alegação de perseguição política. Um pedido de cassação contra seu mandato foi enviado pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos) à Comissão de Ética da Casa, na última sexta-feira (16), após representações apresentadas pelo PT e pelo PSOL.  
 
O ex-presidente Bolsonaro também é réu na ação penal da trama golpista no Supremo, cujo julgamento está marcado para 2 de setembro. Ele e mais sete aliados estarão no banco dos réus. Nessa ação, eles respondem pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado. 
 
O advogado e ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro, Fábio Wajngarten, afirmou que o ex-presidente “nunca cogitou sair do Brasil” e negou a existência de um plano de fuga para a Argentina. “O Presidente Jair Bolsonaro nunca cogitou deixar o Brasil”, diz.  
 
“Como ele mesmo sempre disse, o telefone dele, bem como do seu ajudante de ordens, sempre foram “aeroportos de mensagens” e ou “muros de lamentações” sem nenhuma opinião muito menos adjetivação. Essa é a verdade o resto é vazamento criminoso para dividir e constranger”, escreveu Wajngarten em uma de suas redes sociais. 
 
Malafaia – O pastor teve o celular apreendido quando estava no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Na decisão, o ministro cita que, segundo a Procuradoria-Geral da República, o pastor teria agido como “orientador  e auxiliar das ações de coação” promovidas pelo ex-presidente e por seu filho. Ele reagiu e disse que não é bandido para ter o passaporte apreendido. (Weslley Galzo, Aguirre Talento, Carolina Brígido e Pedro Augusto Figueiredo

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