Por: Adalberto Luque
O juiz José Roberto Bernardi Liberal, da 2ª Vara do Júri e das Execuções Criminais de Ribeirão Preto, retomou nesta sexta-feira, 10 de outubro, o calendário de audiências de instrução com depoimentos de seis testemunhas de acusação no caso que envolve a morte da professora de pilates Larissa Talle Leôncio Rodrigues, de 37 anos, em março deste ano, no Jardim Botânico, Zona Sul da cidade. As seis testemunhas não puderam ser interrogadas em 9 de setembro, por isso vão prestar depoimento hoje.
O magistrado também determinou que o médico legista responsável pela necropsia de Larissa Rodrigues esteja presente. Será inquirido por advogados de defesa dos réus e pelo promotor Marcus Túlio Nicolino, representante do Ministério Público de São Paulo (MPSP) responsável pela acusação. A oitiva deve envolver detalhes da necropsia e do exame toxicológico feitos no corpo de Larissa Rodrigues, envenenada com aldicarbe – o popular “chumbinho”.
Na terça-feira, dia 14, será a vez das testemunhas de defesa. Nesta data, o ortopedista Luiz Antônio Garnica, de 38 anos, marido de Larissa Rodrigues, e a mãe dele, Elizabete Eugênio Arrabaça Garnica, de 68 anos, principais suspeitos do crime, também deverão depor. Na audiência desta sexta-feira, eles participaram por vídeo conferência. Luiz está preso em Serra Azul e Elizabete em Taubaté.

Testemunhas
Nesta segunda etapa da audiência de custódia, serão ouvidos o porteiro do prédio de Larissa, Abílio Manoel Coelho, a prima de Elizabete, Maria Célia Reis dos Santos, o amigo íntimo da vítima, Gabriel Oliveira, a amante de Luiz Garnica, Letícia Camilo Laurindo, o médico legista Guilhermy Tristão Rodrigues e a irmã de Garnica e filha de Elizabete, Viviane Garnica Miotto.
Já na terça-feira, 14 de outubro, serão ouvidas três testemunhas de defesa de Elizabete (Jacira Turati, Ângela Oliveira Sarne e Emerson Luiz Bonato da Silva) e duas de Luiz Garnica (Antônio Luiz Garnica e Carlos Eduardo Warisaia dos Reis).

Expectativa dos defensores
Segundo Bruno Corrêa Ribeiro, defensor de Elizabete, é possível que os acusados não sejam interrogados no dia 14. Isso pode ocorrer porque o MP fez um pedido de perícia contábil das finanças dos envolvidos e o juiz indeferiu. A promotoria entrou com recurso chamado Correição Parcial e, enquanto não julgar, eles não devem ser ouvidos. Há, porém, expectativa de que o recurso seja julgado nesta sexta-feira e o interrogatório será mantido.
Para o advogado de Garnica, Júlio Mossin, três das testemunhas ouvidas hoje são muito importantes em sua opinião: o médico legista, Letícia e Viviane. “A expectativa nossa é positiva, até porque está evidente que o Luiz não concorreu para a morte da esposa. Foi um ato isolado e infeliz de sua genitora. Essa audiência de hoje só reforça a tese da defesa”, explica.
O advogado Bruno Ribeiro também está otimista. “A defesa está bem convicta, pelos elementos já colhidos das testemunhas da audiência anterior e existe grande possibilidade de Elizabete não ser encaminhada a júri. Seria impronunciada. Estamos convictos. Há muitas contradições entre o que foi apurado pela polícia com o que foi colhido pelas testemunhas em juízo. Existe boa possibilidade de ocorrer a impronúncia. Caso eventualmente venha a ser pronunciada, a defesa vai recorrer. Entendemos que os elementos até então colhidos são muito frágeis para comprovar efetiva participação de Elizabete na morte de Larissa”, conclui Ribeiro.

Após os interrogatórios dos acusados, segundo Bruno, o juiz deve estabelecer prazo de cinco dias para que o Ministério Público faça suas considerações finais por escrito e, em seguida, dará o mesmo prazo para os defensores. Depois desse trâmite, o magistrado vai se pronunciar se a acusação será ou não admitida. Em caso afirmativo, o juiz decidirá se os acusados vão ou não a júri popular.
Laudo toxicológico do Instituto Médico Legal (IML) confirmou que Larissa Rodrigues morreu – provavelmente na noite de 21 de março – envenenada com “chumbinho”.
O corpo foi encontrado pelo marido Luiz Antônio Garnica no dia 22, no banheiro do apartamento em que moravam no Jardim Botânico. ??O médico e a mãe, Elizabete Arrabaça, foram indiciados pela Polícia Civil e denunciados pelo Ministério Público de São Paulo por feminicídio triplamente qualificado – motivo torpe, meio cruel (uso de veneno) e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.

A Justiça de Ribeirão Preto acatou a denúncia e a ação penal foi instaurada na 2ª Vara do Júri e das Execuções Criminais de Ribeirão Preto. Além de responder por feminicídio qualificado, Garnica foi denunciado também por fraude processual, por ter limpado e mudado a cena do crime. O inquérito da Polícia Civil concluiu que Garnica teria sido o mentor intelectual e Elizabete Arrabaça, a executora.
Um fato novo surgiu no início da audiência de custódia realizada em 9 de setembro. Com a extração de dados móveis dos celulares dos réus, foi possível obter a geolocalização dos envolvidos. De acordo com o advogado de Garnica, Júlio Mossin, pelos dados extraídos, Elizabete Arrabaça pode ter passado a noite toda no apartamento onde o filho morava com a professora.
Entenda o caso
A professora Larissa Rodrigues foi encontrada morta em seu apartamento no Jardim Botânico, Zona Sul de Ribeirão Preto, na manhã de 22 de março. O corpo foi localizado pelo marido, o médico ortopedista Luiz Garnica, que afirmou ter encontrado a mulher desfalecida no banheiro. Ele a colocou na cama e acionou a Guarda Civil Metropolitana e o Samu, mas ela já estava sem vida.
O exame necroscópico não identificou a causa da morte, mas o laudo toxicológico confirmou envenenamento por “chumbinho”. Após ouvir testemunhas, o delegado Fernando Bravo pediu a prisão preventiva de Garnica e de sua mãe, Elizabete Eugênio Arrabaça, apontando ambos como suspeitos do crime.

Durante as investigações, Bravo também solicitou a exumação do corpo de Nathália Garnica, irmã de Luiz e filha de Elizabete, que havia morrido em Pontal, em 9 de fevereiro, aos 42 anos. Embora a morte tivesse sido registrada como enfarte, o delegado suspeitou de envenenamento, já que Nathália apresentava boa saúde. O laudo do Instituto Médico Legal confirmou a presença de “chumbinho”, apontando envenenamento.
Com o resultado, a polícia indicou que Elizabete Arrabaça deve ser indiciada pela morte da filha. Já o ortopedista e outra irmã, Viviane Garnica Mioto, foram isentos de envolvimento. O caso é tratado como homicídio qualificado, por motivo torpe e meio cruel.
A defesa nega a participação dos investigados. Uma das linhas de investigação aponta que a morte de Larissa pode ter relação com disputa por partilha de bens, já que ela havia solicitado o divórcio dias antes. No caso de Nathália, a suspeita é de que a mãe não aceitava que a filha constituísse família, também por motivos patrimoniais.

