José Eugenio Kaça *
[email protected]
A frase: “O critério da verdade é a prática”, ideia chave da filosofia marxista, que se opõe a forma mais abstrata de verificar a verdade, como a razão ou a crença. A verdade nos dias de hoje foi transformada em emulação, sofismas e subterfúgios, mostrando que praticar a verdade não é mais critério para as relações humanas. Nas cúpulas dos três poderes da República no Brasil, o critério da verdade não costuma ser a prática. Há uma máxima que diz: “uma imagem vale mais do que mil palavras”, entretanto, no Brasil a prática vem mostrando que argumentos sofistas e fantasiosos têm se sobrepostos, e colocando duvidas a veracidade das imagens.
O ataque da seita de fanáticos de extrema direita aos prédios dos Três Poderes em Brasília foi o ápice na tentativa de consolidar o golpe, e para deixar todas as evidências documentadas, fizeram vídeos registrando toda a ação golpista, e se orgulhando dos seus atos, pois se julgavam verdadeiros patriotas; não tiveram êxito – a casa caiu. Dai pra frente o sofisma, a emulação e o subterfúgios tentaram colocar a “narrativa” contra as imagens, e um festival de delinquência intelectual tomou conta do cenário. Segundo as “narrativas”, o vandalismo foi impetrado por infiltrados de esquerda e do PT, e que os “patriotas” (como eles se intitulam) estavam apenas passeando pela explanada, apreciando as paisagens, e senhoras com a Bíblia na mão; faziam orações para salvar o Brasil do comunismo; quanta delinquência coletiva.
E a tentativa de sobrepor as “narrativas” as imagens continuou com força, mostrando que a verdade praticada não é a verdade real e verdadeira. Os depoimentos das testemunhas de defesa do réu; ex-presidente, no processo que apura o golpe, contam histórias mirabolantes, com uma criatividade que faz inveja aos grandes escritores de ficção. As velhinhas com a Bíblia na mão e o passeio na explanada de gente que estava ali para conhecer os monumentos da cidade, coisa totalmente fora da realidade, mas o que já parecia um absurdo total, se tornou algo menor, após o depoimento de um general da reserva. O dito cujo em seu depoimento afirmou que o acampamento montado na frente do quartel do Exército em Brasília era um acampamento onde se praticava a solidariedade e a filantropia, pois a maioria dos que frequentavam este espaço eram pessoas em situação de rua (moradores de rua segundo ele). E pensar que este dito cujo, que chegou ao generalato praticando a pura delinquência intelectual.
E a coisa não para por ai. O voto do ministro do STF, indicado pelo ex-presidente (réu por tentativa de golpe) fez um voto mirabolante para justificar o seu apoio total a permanência do artigo 19 da Lei do Marco civil da internet, que não responsabiliza civilmente as big techs pelos conteúdos criminosos que são postados em suas redes, e como um bom extremista de direita, seu voto não é técnico e sim ideológico, ele usa o mito que a liberdade de expressão sem limites. A situação em que vive a sociedade brasileira na atualidade é terrível, com reflexos perniciosos nas nossas crianças e adolescente, pois não podemos jogar para debaixo do tapete a realidade cruel que vive o cotidiano. A educação é refletida no espelho da sociedade; e quando este espelho só mostra imagens distorcidas, a educação envereda por caminhos tortuosos. A deseducação compromete a vida futura. “O critério da verdade é a prática!”.
* Pedagogo, líder comunitário e ex-conselheiro da Educação