Edwaldo Arantes *
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Neste abril não pensei em Semana Santa, Dia do índio, Dia Nacional do Livro Infantil e muito menos na Inconfidência Mineira e seu mentor, Joaquim José da Silva Xavier, “Tiradentes”, uma alusão à sua profissão.
Tenho algumas dúvidas sobre uma insurreição tendo como membros poderosos proprietários de terras, abastados comerciantes, religiosos, funcionários públicos profissionais liberais e intelectuais e poetas, a maioria escravocrata na “Vila Rica do Pilar”
Uma elite poderosa mineira insatisfeita com a política fiscal da Coroa, traduzidos pelos altos impostos, o “Quinto” e a “Derrama”.
Ponho a pensar nos escravos, desvalidos, lavradores, pequenos comerciantes e a grande massa ignara e depauperada em seu labor a serviço dos “Coronéis”.
Deixo meus devaneios e minha ignorância histórica ao sabor dos mestres, doutores e estudiosos que dedicam sua vida a esclarecer e contribuir, desvendando os fatos e ações imprescindíveis ao conhecimento e a verdade.
“Enquanto revolver os meus Consultos, tu me farás gostosa companhia, lendo os fastos da sábia, mestra História, e os cantos da Poesia” Tomás Antônio Gonzaga, Inconfidente, in Marília de Dirceu.
Afasto meus confusos pensamentos confessando que na atual etapa da vida, permaneço distante dos momentos saudosos vividos nas minhas Minas Gerais, principalmente, São Sebastião do Paraíso.
Prefiro permanecer na companhia das reminiscências vagando pelo quarto ao lado dos livros e palavras depositadas em uma folha alva, ao lado do eterno tinto seco português.
Decidi abrir antigos álbuns e suas fotografias desbotadas e amareladas pelo tempo, que a tudo corrói.
Sinto o cheiro do papel antigo, abro e começo a folhear, nas primeiras páginas vislumbro um passado distante e perdido, com batizados, casamentos, aniversários, Verônicas, imagens, velas e procissões, o caminho natural do existir.
Permaneço virando as páginas, uma história começa a brotar, assustadora, como os anos conseguem passar em uma rapidez de saltar aos olhos, fazendo menção a uma cena do genial cineasta espanhol, Carlos Saura, em “Mamãe faz 100 anos”.
O momento em silêncio, os motivos e as razões são absolutamente nossas, imaginações e lembranças apenas pertencem aos nossos segredos e instantes, não a quem clicou, pois na minha época, ainda bem, não existiam celulares quanto mais “selfies”, todos portavam a velha Kodak amarela.
O momento eterniza e resguarda segredos, sorrisos e semblantes acobertados e marcados pelo instantâneo das poses, no registro absolutamente estático, pode ser um captar da vida ou da morte, sem um movimento sequer.
Os dedos deslizam sobre elas, tecendo leves carinhos, como se os toques pudessem afagar e resgatar um tempo, imaginando que as fotos possam saltar para a vida.
Cada imagem parece um caminhar na trajetória e história, a Primeira Comunhão, a escola estampada com o dia, mês, ano e série cursada, a valsa com minha mãe na colação de grau e tantos momentos vividos, Natais, carnavais, bailes, a primeira mesa com cervejas depois das calças curtas.
O tempo galopa como um alazão, passando como um raio a cada folha lembrando João Guimarães Rosa, ”a vida embrulha tudo”, penso que a infância, adolescência, maturidade e velhice misturam-se formando um invólucro, sem fitas ou papel celofane vermelho escondendo a trajetória.
Fechando a coleção e suas fotos, prevejo o final da história e dos registros da existência, descubro emocionado que o relógio bate e o tempo se esvai.
Cerro os olhos e lembro Carlos Drummond de Andrade. “É quando, ao despertar, revejo a um canto a noite acumulada de meus dias e sinto que estou vivo e não sonho”
Dia 21 de abril, realmente a única importância fundamental que hoje vejo em abril, data quando veio ao mundo um ser que a tudo ilumina e brilha.
Parabéns filha amada, Marina Roxo, muitas e muitas felicidades, continues a filha carinhosa, presente, digna, solidária e, principalmente, comprometida com as causas sociais e a defesa dos mais necessitados.
* Agente cultural