Investigado por suspeita de envolvimento com pastores que cobravam propina para intermediar recursos para escolas, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, entregou o cargo ao presidente Jair Bolsonaro (PL) por meio de carta. Diz que as reportagens revelando corrupção na sua pasta “provocaram uma grande transformação em sua vida”.
Ele pede que as suspeitas de que uma pessoa próxima a ele “poderia estar cometendo atos irregulares devem ser investigadas com profundidade”. Ribeiro deixa o cargo dizendo estar “de coração partido”. O pedido de demissão ocorre no mesmo dia de o jornal Estadão revelar que, em evento do MEC, foram distribuídas bíblias com fotos do ministro, que para especialistas ato pode ser enquadrado como crime.
A derrocada do ministro começou no dia 18 deste mês, após publicação da primeira reportagem sobre o gabinete paralelo no MEC de Milton Ribeiro com atuação dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. Na carta, diante dos fatos, ele disse que decidiu pedir exoneração com a finalidade “de que não paira nenhuma incerteza sobre sua conduta.”
Segundo o ministro, ele quer “mais do que ninguém, uma investigação completa e longe de qualquer dúvida acerca de tentativas dele de interferir nas investigações”. Ribeiro diz que seu afastamento “é única e exclusivamente decorrente de minha responsabilidade política que exigem de mim um senso de país maior do que quaisquer sentimentos pessoais”.
Encerra a carta com o “até breve” prometendo voltar se sua inocência for comprovada. A decisão foi tomada após uma série de reportagens revelarem que o ministro mantinha um gabinete paralelo operado por pastores. Prefeitos contaram que receberam pedidos de propina em ouro em contrapartida para terem demandas atendidas no MEC.
Com a demissão, o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) passará por sua quinta gestão diferente do MEC. Nesta segunda-feira, 28 de março, o Estadão mostrou que, em evento do MEC, foram distribuídas bíblias com fotos do ministro Ribeiro, o que pode configurar crime. A compra dos livros também era parte de pagamento de propina pedida pelos pastores, conforme relato de prefeitos ao jornal.
Quem deve assumir o MEC no lugar de Ribeiro é o secretário-executivo Victor Godoy Veiga, mas de forma interina. Em um dos casos de privilégio aos evangélicos, a prefeitura de Bom Lugar (MA) conseguiu o empenho de parte do dinheiro solicitado apenas 16 dias depois de um encontro mediado pelos religiosos.
A prefeita Marlene Miranda (PCdoB) e seu marido Marcos Miranda participaram no dia 16 de fevereiro de uma reunião no ministério intermediada pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. O agora ex-ministro era reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, instituição de ensino privada de São Paulo, e estava no cargo desde junho de 2019, após Abraham Weintraub sair do ministério.
Além de Ribeiro e Weintraub, também comandaram a área federal da educação os professores Ricardo Vélez Rodriguez e Carlos Alberto Decotelli, este último teve a nomeação publicada no Diário Oficial da União, mas ficou somente cinco dias na função, sem nunca ter despachado, por conta de inconsistências no currículo.
Após a revelação do caso do gabinete paralelo, deputados decidiram acionar a Procuradoria-Geral da República (PGR) para que Ribeiro seja investigado por suspeita de improbidade administrativa e crime de responsabilidade, entre outras irregularidades. Na última sexta-feira, 18, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) solicitou a apuração do caso. A Superintendência da Polícia Federal (PF) no Distrito Federal também instaurou inquérito.