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Eterna falcatrua e improbidade da máquina pública

Projetos que envolvem o desenvolvimento de um país, só darão o resultado esperado, se tiverem o envolvimento de toda a popula­ção, permitindo que os usuários dos serviços públicos tenham vez e voz, que participem através de conselhos populares das decisões que vão afetar as suas vidas. A resistência àditadura militar criou movimentos que envolviam as populações pobres, que descobriram que além dos deveres, também tinham direitos.

Embasados no artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, que diz: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para os outros em espírito de fraternidade”, e este artigo passou a ser o norte dessa gente desvalida, que foram abandonados pelos governantes brasileiros ao longo da nossa história.

As discussões e debates feitos na base mostraram para a popu­lação a importância de uma educação básica pública de excelência para todos, sem distinção. As Conferências Brasileiras de Educação, um movimento de base iniciado nos anos 1980 é o maior exemplo de que para educar uma criança é preciso uma comunidade.

E esse movimento que ocorreu nas principais cidades brasileiras, mostrou que era possível fazer diferente, e os documentos produzidos subsidiaram os constituintes, e a educação básica recebeu um capítulo que tinha e tem a função de iluminar as ações para promover a tão so­nhada educação de qualidade. No entanto após a Promulgação da Car­ta Magna esse movimento arrefeceu, e trouxe àtona a frase do Hino Nacional, que diz: “Deitado eternamente em berço esplêndido”, e sem cobrança e resistência da base o capítulo educação naufragou.

A eterna falcatrua e improbidade que os políticos impingem ao serviço público colocam a população pobre numa condição de vida deplorável, e isso é feito deliberadamente, pois para manter a aristo­cracia intacta, e não permitir que a miséria seja extirpada do nosso cotidiano erguem muros como barreiras físicas e barreiras intelec­tuais, para não permitir que o conhecimento seja compartilhado com a população pobre através da escola básica pública.

Depreciar crianças e adolescentes pobres, impingindo-os a pecha de baixa inte­lectualidade, e que por conta disso há dificuldade na aprendizagem -é coisa de gente covarde e criminosa.
O tempo do reinado do coronel na Rede Municipal de Educação de Ribeirão Preto deixou cicatrizes e atrasos exponenciais, e vai ser difícil dirimir, pois vai precisar de tempo e coragem, acontece que a coragem fica presa nas amarrações políticas, aí não tem solução. A pandemia socorreu a prefeitura e a Secretaria da Educação, pois sem os alunos nas escolas, teoricamente teriam tempo para resolver todos os problemas estruturais que há tempos maculam as escolas da Rede, no entanto os quase dois anos em que as escolas ficaram desabitadas, pouca coisa aconteceu.

As grandes reformas não passaram de pequenas maquiagens, haja vista a denúncia de professores(as) nas redes sociais, sobre as condições totalmente inadequadas que algumas escolas apresentam. Uma rede da educação básica, para ter qualidade é preciso funcio­nar como uma rede, a relação vertical não cabe mais no século 21, já não cabia antes, pois temos uma Lei Federal de 1996, LDBEN, que prevê a horizontalidade dos relacionamentos no ambiente escolar.

A herança do coronel criou na Secretaria Municipal de Educa­ção o costume vezo da escamoteação, pois as ordens que podem gerar polemicas são transmitidas verbalmente para os diretores, e quando dá ruim falam que os diretores interpretaram de maneira equivocada estas ordens, como foi o caso recente do sono na educa­ção infantil, e como os cargos são políticos, que é uma vergonha, o diretor(a) só está garantido no cargo até a próxima edição do Diário Oficial, e por conta disso não há contestação.

A qualidade na educação básica passa pela ética e hombridade, que só vai acontecer quando o capítulo Educação da Constituição fizer parte do ambiente escolar – a educação e o conhecimento só acontecem no plural, não é mostrando filmes com imagens de esco­las finlandesas e norueguesas em horário nobre que vamos avançar.

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