Tribuna Ribeirão
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“Fausto” 

Edwaldo Arantes * 
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Iniciei a releitura de “Fausto”, obra prima do mais influente escritor da língua alemã, nascido aos 28 de agosto de 1749, Johann Wolfgang von Goethe.  
 
Acredito que sonhei ou na fértil imaginação, lia “Fausto”, ao mesmo tempo, com uma pessoa distante e desconhecida. 
 
Só sei, dona de um par de olhos verdes, esmeraldas fulgurantes, uma fragrância inebriante nunca sentida que saltava do seu corpo escultural para as páginas, sorriso contido que se abria ou cerrava a cada frase. 
 
Afrodite, a deusa grega do amor, da beleza e do desejo, apenas uma paixão longínqua e proibida, lembrei-me da película; “Nunca te vi, sempre te amei”. 
 
O mais incrível é que líamos as mesmas páginas interpretando  e sentindo, virando  as folhas em sintonia, uma sincronia única em dois seres. 
 
“Fausto” é um texto dramático onde o personagem Mefistófeles, o diabo, aposta com Deus que Fausto tem um preço para sua alma, como todos os humanos, capturando-os pela mentira, sedução e encanto. 
 
Impressionante como uma peça escrita em 1806 possa ser tão atual, como Machado de Assis, atemporal. 
 
Observo sempre a etimologia como ensinou o mestre e amigo querido, gênio das palavras, Deonísio da Silva. 
 
Sinto os significados opostos, cujos sentidos são contrários ou incompatíveis com o das outras. 
 
Passamos a existir entre as concepções das palavras e a luta entre o antagônico e o equivalente.  
 
Navegamos como a obra de Goethe entre a eterna disputa da verdade e mentira, amor e ódio, esperança e descrença, relação e incongruência, prazer e dor, Deus e o Diabo, Mefistófeles e Fausto. 
 
Uma batalha eterna entre o contrário e o propício na busca insana de atingir o certo, escapando do errado. 
 
Acontece que as teias dos anos vivem a pregar peças com um emaranhado de ações, descobertas, realizações e o sofrimento diário proporcionado por este estranho, duvidoso e incógnito existir. 
 
O credo popular cunhou pelos séculos, ditos que procuram apaziguar o medo do amanhã e o estado do que subsiste e sobrevive, “amanhã será outro dia”, “o futuro, a Deus pertence”, “vivam o hoje”, “não se preocupem, o amanhã trará as suas próprias preocupações 
 
As religiões, diligências, seitas e cultos disseminaram crenças na tentativa de amenizar o medo do desconhecido, tememos a escuridão quando cessa o brilho do sol, surgindo a noite tenebrosa. 
 
Fogo, vela, lampião e a luz elétrica, vieram amenizar um pouco este temor, afastando o terror da escuridão.  
 
Assusta e choca a humanidade a incerteza e a incógnita, a existência do bem e do mal, do Céu e Inferno, do Salvador e Lúcifer.  
 
Foram criados em todas as culturas e idiomas seres do bem e do mal, diabos, duendes, fantasmas, lobisomens, fadas, anjos, cupidos, uma legião de personagens fictícios  confirmados pela ingenuidade, humildade, simplicidade e o terror incessante, temendo o fogo do inferno extinto pela água benta. 
 
“Crenças ou noções se baseiam na razão ou no conhecimento levando a criar falsas obrigações, a temer coisas inócuas, a depositar confiança em coisas absurdas”. “Antonio Houaiss”. 
 
Aos poucos a ciência descobre a realidade, ao entendimento de que somos os únicos responsáveis pelos acontecimentos e os destinos que escolhemos. 
 
Talvez as fraquezas levem a uma maneira de responsabilizar terceiros ao trilhar os nossos caminhos, colocando a culpa na sorte ou azar, “foi Deus que quis” ou “coisas do Satanás”. 
 
Também das regras impostas pelas doutrinas, práticas e princípios, acreditando nas normas e conceitos, justificamos e isentamos nossas culpas e responsabilidades, nos sucessos e fracassos. 
 
Nossos triunfos resultam do trabalho, persistência e dedicação como o atleta em busca do recorde ou alcançar o ouro, a prata e o bronze.  
 
Nossas derrotas são apenas nossas falhas, desatenções, imperfeições, defeitos, lapsos e deslizes, levando aos insucessos.  
 
Quando Perseu mata a Medusa, entrega a cabeça a Atena, o símbolo da derrota gerado pelo sucesso da vitória. 
 
Ao procurar tecer palavras, os olhos verdes me perseguem, ou são faíscas abertas em aplausos ou pálpebras fechadas, desaprovando.  
 
Em cada palavra busco descobrir a razão da sua existência tão longínqua quanto amada e imaginada, por enquanto fechamos o livro. 
 
Continuamos no próximo capítulo. 
 
* Agente cultural 

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