Pe. Gilberto Kasper *
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No dia em que se inicia “o septuagésimo sexto Conclave da história da Igreja, 7 de maio de 2025, o vigésimo sexto realizado sob os auspícios do Juízo Final de Michelangelo, estabelecido por Gregório X em 1274” que tem por missão eleger o 267º Pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana, lembramos, de coração agradecido, de mais duas características do amado Papa Francisco, o Papa da Misericórdia e Ternura!
Em sua primeira alocução na janelinha do Palácio Pontifício, no Vaticano, durante o Ângelus, o então recente papa eleito, demonstrou ser Francisco, o Papa da Misericórdia e Ternura. Abordou o tema da misericórdia a partir do livrinho, lançado naqueles dias, que teria lido durante a preparação para o Conclave, de autoria do Cardeal Walter Kasper, Deus é Misericórdia!
Logo, de início, afirmou querer uma “Igreja pobre para os pobres”, uma “Igreja em saída”, com os “pés lambuzados” de tanto ir ao encontro das periferias do mundo levando a “Alegria do Evangelho” a “todos, todos, todos” os povos, independente de suas feições culturais, convicções políticas, condições econômicas e sociais. Quis uma Igreja de Inclusão, que promovesse a “Cultura do Encontro”, superando a igrejinha do descartável daqueles que não se enquadravam nas estruturas rígidas de uma igreja que desfigurava a verdadeira Igreja pensada e inaugurada por Jesus de Nazaré: toda ela missionária e discípula. Uma Igreja que promovesse o perdão, a justiça, a verdade, a liberdade e a paz. Francisco, o Papa da Misericórdia e Ternura, deixou este mundo suplicando pela paz entre os povos. Ofereceu suas enfermidades e limites físicos pela paz num mundo tão oco de Deus, tão cheio de polarizações, ódio, desencontros e corações inchados de soberba, arrogância e prepotência. Mesmo assim tais corações buscam o Cristo Sacramentado na Eucaristia e o comungam. Então me atrevo a perguntar-me a mim mesmo, o que a Irmã Neófita, minha primeira Catequista dizia no dia de minha Primeira Comunhão: “Crianças queridas, fechem os olhos, façam silêncio, e procurem sentir para onde foi a hóstia consagrada? Foi para o coraçãozinho ou para o estômago de vocês? Se não foi para o coraçãozinho, é porque comungaram em pecado!” Até hoje procuro a resposta e não a encontrei ainda. Mas confesso que espero que Jesus tenha feito de meu coração seu sacrário, seu tabernáculo, sua casinha! Até porque Francisco costumava dizer que “a Eucaristia não é prêmio destinado aos certinhos, mas remédio aos enfermos de alma”!
Francisco, o Papa da Misericórdia nos presenteou com um Ano Santo do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, de 8 de dezembro de 2015 a 20 de novembro de 2016. Quanta riqueza pudemos redescobrir sobre a Misericórdia de Deus para conosco! O que seria de nós sem a Misericórdia de Deus? Ao se deparar com um menino aos prantos, numa de suas Viagens Apostólicas, que correu para seus braços perguntando se seu pai teria ido para o inferno, porque se suicidara, o Papa Francisco lhe perguntou se acreditava que Deus é nosso Pai, o Pai de todas as criaturas. O menino respondeu que acreditava ser Deus nosso Pai. Francisco, o Papa da Misericórdia e Ternura, respondeu com outra pergunta aos prantos do menino: “E você acredita que um pai vai abandonar qualquer um de seus filhos?”
Francisco, o Papa da Ternura não se cansava de abraçar e beijar as pessoas portadoras de deficiências, que encontrava pela frente. Além do sorriso tão cheio de ternura, sempre distribuía uma palavra bem humorada de esperança, perspectiva e sentido de vida nova para cada uma delas.
Valorizou a presença feminina na Igreja, como nunca antes visto, a não ser como o próprio Cristo valorizava as mulheres que o seguiam. Nossas Comunidades mundo a fora são formadas, em sua grande maioria, por mulheres e crianças. Oxalá aprendamos de Francisco, escutá-las mais, respeitá-las mais, valorizá-las como merecem.
Ao invés de especularmos, tentarmos espiar pela fechadura da Capela Sistina, sobre o perfil, nome, nacionalidade, se conservador ou progressista, coloquemo-nos de joelhos e rezemos para que o Espírito Santo presida o Conclave que nos dará um novo Papa, o Sucessor de Pedro! Desde já amemos o Papa que está por vir, para continuar a missão que lhe será conferida pela Comunidade Perfeita, a Santíssima Trindade!
* Teólogo, reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres; pároco da Paróquia Santa Teresa D’Ávila, presidente do Fraterno Auxílio Cristão de Ribeirão Preto e jornalista