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29 de março de 2024 | 3:10
Jornal Tribuna Ribeirão
Técnica começou a ser implantada há quatro meses em Ribeirão Preto, mas equipe avalia resultados como satisfatórios - FOTOS: JF PIMENTA
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Constelação familiar é usada em Ribeirão

As Varas de Família do sistema judiciário brasileiro estão conseguindo melhorar os resultados em processos de conciliação com o uso de uma técnica denominada constelação familiar. Ela foi implantada, primeiramente em 2006, na Bahia, pelo juiz Sami Storch. Atualmente é utilizada em 16 estados e no Distrito Federal. Em Ribeirão Preto foi utilizada ano passa­do e retomada neste ano.

Constelação familiar é uma técnica criada pelo alemão Bert Hellinger e tem uma aborda­gem terapêutica reconhecida como uma ciência dos rela­cionamentos humanos. Além da Justiça ela é empregada em várias áreas como educação, assessoria empresarial, marke­ting e saúde.

No Judiciário, as pessoas envolvidas participam de uma sessão e vivenciam situações que as fazem enxergar e en­tender os problemas e confli­tos com outros pontos de vis­ta, da outra parte no processo ou de envolvidos. O detalhe é que várias pessoas com pro­cessos semelhantes podem participar do mesmo encon­tro. Uma equipe multidiscipli­nar conduz os trabalhos. Há uma carga emocional forte.

Em Ribeirão Preto, as Constelações são aplicadas no Anexo da Violência da Mu­lher e da Família. Os encon­tros são mensais. Podem ser beneficiadas as famílias que já têm processos em andamento.

Ajudamos as pessoas a mergulhar fundo em suas histórias para en­tender quais as causas e não apenas os efeitos daquele conflito atual
Indicação para constelação depende de uma avaliação técnica previa do setor do anexo e da voluntariedade das partes

O atendimento é realiza­do por uma equipe formada por advogados e terapeutas, que participam da Oficina de Direito Sistêmico Prosseguir. “Por meio das constelações nós analisamos as questões fa­miliares de forma muito mais profunda, auxiliando as partes envolvidas a identificarem suas verdadeiras funções dentro da família. Ajudamos as pessoas a mergulhar fundo em suas his­tórias para entender quais as causas e não apenas os efeitos daquele conflito atual,” explica a advogada Janice Grave Pesta­na Barbosa, coordenadora da equipe e facilitadora em cons­telações familiares.

Renata (nome fictício) par­ticipou de uma sessão de cons­telação familiar em Ribeirão Preto. Ela tem vários processos na Justiça contra o ex-marido que perduram há dez anos, idade do filho do casal. O filho não quer ver o pai, que por sua vez, além de não pagar a pen­são é envolvido com drogas. Ela foi sozinha à sessão, mas conseguiu ver que o problema do ex-marido é caso de doença e precisa ser tratada.

“Eu tinha uma visão, mas hoje percebo que ele também precisa de ajuda. O meu filho é adolescente e não consegue admitir a figura do pai, mas é uma situação que precisa de apoio também. Os dois preci­sam de ajuda. A constelação me ajudou a entender os outros lados,” explica.

Para a juíza Carolina Mo­reira Gama, responsável pelo Anexo da Violência da Mulher e da Família, a experiência tem trazido resultados muito satis­fatórios às famílias em conflito. De acordo com ela, nos trâmi­tes normais, os procedimentos de ordem criminal, principal­mente quando se referem à violência doméstica, não ex­tinguem os conflitos. Sendo assim, o índice de reincidência acaba sendo alto.

“O que a justiça oferece é uma solução simplificada para um problema complexo. Nas Constelações a situação é bem diferente. Por meio deste mé­todo o autor e a vítima con­seguem entender melhor seu papel na família. Os filhos e ou­tras pessoas daquele núcleo fa­miliar também são convidados a participar das sessões, fato que não é permitido na trami­tação de um processo normal,” ressalta a juíza.

Gama explica que a indica­ção para constelação depende de uma avaliação técnica previa do setor do anexo e da volun­tariedade das partes. “O juízo nada impõe, condiciona e nem determina essa técnica,” diz.

“Acredito que a constelação familiar trata de pontos im­portantes relacionados a cau­sas e consequências de confli­tos domésticos, de modo que é mais uma ferramenta ou ins­trumental importante para a pacificação desses casos, mais ainda do que são complexos e quando a pena não alcança esses fins,” finaliza.

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