A viagem a pé que durou 14 meses, do Recife, capital de Pernambuco, a Ribeirão Preto e 30 viagens de bicicleta até Aparecida de Norte (hoje só Aparecida) por três décadas seguidas são os componentes de uma história que empolgou os integrantes do Comitê Olímpico, em 2014, e que agora será publicada no livro “História do Dia”, com lançamento marcado para o próximo mês de maio.
“Seo” Amaro, como é conhecido, virou celebridade em 2016, quando acendeu a pira olímpica em Ribeirão Preto. Jornais e emissoras de rádio e TV contaram a história desse pernambucano. “Vixe. Depois que participei dos programas e apareci nos jornais fiquei famoso. Nem acredito que Deus permitiu isso. No meio de tanta gente importante, Deus me escolheu”, diz o gari da Estre Ambiental.
Amaro Silva trabalha na limpeza urbana há mais de 25 anos, os últimos 18 na varrição. Chegou em Ribeirão Preto em 1968. Saiu do Recife para São Paulo. Não gostou. Foi para Campinas, mas também não gostou e resolveu vir para Ribeirão Preto. “Daqui eu gostei, tanto que fiz minha vida aqui. Casei, criei minhas filhas, construí minha casa com o dinheiro que ganhei trabalhando na limpeza da cidade. Sou um homem muito feliz e crente em Deus”.
Mas antes de fincar raízes em Ribeirão Preto, Amaro voltou ao Recife para buscar documentos. A partir daí, a história dele começa a sair do comum. “Queria voltar para Ribeirão, mas não tinha dinheiro. Então decidi vir a pé. Viajava uns dias, entrava nas cidades para trabalhar e ganhava um ‘dinherinho’ para continuar a viagem. Foi assim que fiz. Demorei 14 meses, mas cheguei”, fala com sorriso largo e olhos de vencedor.
Em Ribeirão Preto, o emprego não apareceu tão rápido. “Fiz uma promessa de viajar atá Aparecida do Norte de bicicleta se arrumasse um emprego. E arrumei. Meu primeiro emprego foi de servente de pedreiro em uma casa em construção na avenida Independência. Para pagar a promessa viajei 30 vezes, uma por ano até Aparecida do Norte. Acho que tá pago, né?”, brinca com a própria proeza.
Quem passou pela avenida Independência, entre a Doutor Francisco Junqueira e a Nove de Julho, ou pela praça Francisco Schmidt, ao lado da rodoviária, já viu “Seo” Amaro. “Às vezes me chamam de baiano, apesar de ser pernambucano”, sorri. “Não tem importância, o bom é que meu trabalho e somos respeitados”.
“Seo” Amaro vai ocupar uma das cadeiras do Theatro Pedro II, local escolhido pela jornalista Daniela Penha, autora do livro “Histórias do Dia”, que vai contar a história de 50 personalidades da cidade. Uma delas, de um gari que trabalha para a Estre varrendo ruas e avenidas e que tem muita história para contar.