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O caso do empresário desaparecido: uma tragédia anunciada?

Nelson, Marcela, Marlon e Tadeu (Arquivo pessoal/Reprodução)

Lúcio Mendes

O desaparecimento do empresário paulistano Nelson Francisco Carreira Filho, após uma reunião com o também empresário Marlon Couto Paula Júnior, em 16 de maio de 2025, em Cravinhos (SP), expôs, até onde um depoimento esclarece, uma trama complexa de negócios mal resolvidos, decisões ilegais e consequências fatais.

Relação Comercial Prévia: Convivência ou Conflito Mal Administrado?

Nelson e Marlon mantinham uma relação comercial anterior, centrada no uso da marca de suplementos Bariatric Gold, registrada por Nelson. Marlon, dono da empresa AppleLife, comercializava produtos supostamente utilizando a marca de forma irregular. Em vez de formalizarem a relação com contratos claros ou resolverem o impasse judicialmente, o conflito cresceu em ambiente de informalidade, ressentimento e desconfiança.

Esse histórico conjunto levanta uma questão inevitável:

Se havia um vínculo comercial entre os dois, por que o conflito não foi resolvido de maneira legal ou negociada?

A falta de mediação profissional ou respaldo jurídico nesse relacionamento anterior pode ter criado o ambiente propício para o desfecho trágico.

As Revelações do Depoimento de Tadeu

A reviravolta na investigação se deu a partir do depoimento de Tadeu Almeida Silva, funcionário de Marlon. Foi ele, e não Marlon, quem forneceu os detalhes centrais à Polícia Civil.

Segundo Tadeu, Nelson descobriu o uso indevido de sua marca pela AppleLife e exigia pagamentos mensais entre R$ 90 mil e R$ 100 mil para não denunciá-lo. Marlon teria interpretado essas cobranças como tentativas de extorsão. Nenhum dos dois, porém, procurou as autoridades.

Na data do desaparecimento, Tadeu disse ter ouvido um disparo e visto Nelson caído ao chão na fábrica da AppleLife. Marlon segurava uma arma. Tadeu foi então orientado a ajudar a enrolar o corpo, lavar o sangue do local e levar o carro da vítima até São Paulo para despistar a investigação.

Nelson teria sido colocado em uma picape e, segundo Tadeu, Marlon o levou até um rio na região de Miguelópolis, onde descartou o corpo. Até agora, o corpo não foi encontrado. Marlon Couto Pereira Júnior e a esposa, Marcela Silva de Almeida, continuam foragidos.

Famílias Devastadas: Vítimas Colaterais

Enquanto a polícia tenta localizar Nelson e concluir o inquérito, suas famílias enfrentam dores distintas e igualmente profundas. A de Nelson sofre com a incerteza e o desaparecimento de um ente querido. A de Marlon, com a prisão e o peso de uma acusação grave. Já Tadeu, agora réu confesso, também trouxe sofrimento à sua família.

Essas famílias, que não participaram do conflito comercial, tornaram-se vítimas colaterais de decisões tomadas sem mediação, sem Justiça e com violência.

Como a Tragédia Poderia Ter Sido Evitada?

1. Acordos formais: Um contrato legal poderia ter definido o uso da marca e evitado conflitos futuros.

2. Ação judicial imediata: Qualquer das partes poderia ter recorrido à Justiça, por uso indevido de marca ou suposta extorsão.

3. Mediação empresarial: A intermediação por profissionais jurídicos ou contábeis poderia pacificar os ânimos.

4. Cultura de legalidade: A tentativa de resolver disputas por meios informais e coercitivos expôs ambos os empresários a riscos fatais.

5. Canal institucional: Boletins de ocorrência ou notificações extrajudiciais poderiam documentar os fatos e abrir caminhos legais legítimos.

 

Outros Casos Semelhantes: Conflitos Comerciais que Terminam em Tragédia

Infelizmente, o caso de Nelson não é isolado. Em 2022, em Belo Horizonte (MG), o empresário do setor de informática Leandro Ferraz foi assassinado por um ex-sócio após meses de disputas sobre a propriedade de uma startup. As divergências envolviam o uso de tecnologia desenvolvida em conjunto, mas nunca registrada formalmente. Sem contratos, sem registros de propriedade intelectual e com uma comunicação deteriorada, a tensão aumentou até culminar em um encontro violento que terminou com a morte de Leandro em um estacionamento.

Assim como no caso de Cravinhos, o histórico de informalidade, a ausência de mediação jurídica e a decisão de “resolver pessoalmente” o impasse foram determinantes para a tragédia.

Ambos os episódios apontam para a urgência de uma mudança cultural nas relações empresariais e interpessoais: conflitos precisam ser enfrentados com respaldo legal, não com impulsos ou ameaças. A informalidade pode ser fatal quando aliada à desconfiança e à ausência de instituições no processo.

Enquanto Nelson permanece desaparecido, a investigação segue. Mas a lição já está posta: sem Justiça, mediação e contratos, as empresas correm riscos , e as pessoas, vidas.

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