Isaac Antunes *
O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) promete se tornar um dos episódios mais controversos da história política recente do país. Acusado de liderar uma tentativa de golpe de Estado para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, Bolsonaro pode pegar até 43 anos de prisão.
Mas a pergunta é: estamos julgando um homem ou estamos tentando silenciar uma corrente legítima do pensamento político nacional?
Não se trata aqui de negar os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023 nem de defender atos de vandalismo. O que está em debate é algo maior — o uso da Justiça como instrumento de perseguição política. O ex-presidente já foi tornado inelegível, enfrenta uma avalanche de inquéritos simultâneos e agora é levado a julgamento sob acusações de tentativa de golpe com base em interpretações altamente discutíveis.
A democracia não é feita apenas do “lado vencedor” nas urnas, mas da convivência dos contrários. E, nesse ponto, Bolsonaro representa não um extremismo, mas uma parcela expressiva da população que anseia por um Estado mais austero, menos ideológico, mais comprometido com valores conservadores e com a segurança pública.
Ignorar isso e tratar o ex-presidente como uma ameaça institucional é dar as costas a 58 milhões de brasileiros que o elegeram em 2018 e o mantiveram como principal força de oposição em 2022. Esses eleitores não desapareceram, não se arrependeram, não se calaram e, com certeza, pagam um preço alto por isso.
O momento exige equilíbrio, não revanche. O Supremo, ao levar Bolsonaro a julgamento às vésperas de um novo ciclo eleitoral, corre o risco de comprometer sua própria credibilidade e de aprofundar a já frágil confiança da população nas instituições.
Mais do que julgar Bolsonaro, o que está em jogo é o espaço legítimo para a oposição política no Brasil. A democracia exige limites — mas exige também freios contra o uso político do Judiciário. Se isso se perder, abriremos um precedente perigoso: o da criminalização da divergência.
* Vereador, presidente da Câmara de Ribeirão Preto e do Diretório Municipal do PL